Uma análise crítica de manuais de atuação de intérpretes em contexto de refúgio
DOI:
https://doi.org/10.26512/belasinfieis.v13.n1.2024.51483Palavras-chave:
Interpretação comunitária. Assistência linguística. Refúgio. Análise do discurso assistida por corpus. Formação de intérpretes.Resumo
A intensificação das mobilidades humanas pressupõe reflexões de como assegurar o direito linguístico de pessoas com pouca ou nenhuma proficiência na(s) língua(s) oficial(is) de um país, dentre as quais o de pessoas refugiadas, excluídas dos sistemas de assistência por falarem línguas distintas dos agentes que prestam serviços dessa natureza. Frente a tamanho desafio, faz-se necessária a implementação de uma política de assistência linguística, tributária da criação de um sistema integrado de formação, certificação e credenciamento de profissionais da mediação linguística. Se poucos são os países que oferecem cursos especializados na área, muitos deles contam, para pautar a atuação dos intérpretes comunitários, com manuais e códigos de ética elaborados sem o necessário embasamento em estudos linguísticos e, ainda menos, em reflexões especializadas sobre tradução/interpretação. Nesse contexto, a presente reflexão tem como objetivo descrever alguns desses materiais com foco nos conceitos de língua, tradução e interpretação e as representações que deles emergem. Os dados foram tratados com base na análise do discurso direcionada por corpus, que permitiu identificar a predominância de uma visão idealizada e fantasiosa da atividade de tradução e do papel do intérprete comunitário, manifestada linguisticamente por meio de palavras como “neutralidade”, “imparcialidade” e “precisão”, entre tantas outras. Percebe-se, que, embora produzidos por países com histórico de acolhimento de imigrantes e dotados de serviços de assistência linguística, os manuais veiculam conceitos reducionistas e essencialistas de uma suposta transparência e invisibilidade da atividade tradutória.
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