Bíblias vulgatas brasileiras: relações entre tradução e linguagem

Autores

DOI:

https://doi.org/10.26512/belasinfieis.v9.n5.2020.30487

Palavras-chave:

Tradução bíblica. Bíblias vulgatas. Textos sensíveis. Elementos paratextuais. Projeto tradutório.

Resumo

A partir da década de 1960, traduções bíblicas preocupadas em acompanhar a evolução das línguas e em fornecer o texto bíblico de forma mais compreensível passaram a ser produzidas em várias línguas. O trabalho sobre a linguagem, adjetivada como contemporânea e/ou facilitada, é um dos principais slogans desses projetos tradutórios. Este trabalho tem por objetivo analisar os discursos sobre a relação entre o fenômeno tradutório e o tratamento dado à linguagem, veiculados em traduções bíblicas vulgatas brasileiras. Trata-se de uma pesquisa descritiva, qualitativa, de cunho bibliográfico e documental. O corpus é composto por excertos encontrados em elementos paratextuais de traduções bíblicas vulgatas brasileiras, os quais versam sobre o fenômeno tradutório e o trabalho realizado com a linguagem. As noções encontradas foram discutidas com base em fundamentos teórico-metodológicos pertinentes, dentre os quais: Nida (1964), Simms (1997), Gohn (2001), Konings (2006, 2009), Teixeira e Zimmer (2008), Lopes (2008) e Nord (2016). A análise do corpus permitiu-nos constatar a predominância de dois discursos: o de que esses projetos tradutórios promovem o triunfo do texto bíblico sobre seu distanciamento temporal, ajudando a atualizar a linguagem bíblica, e o de a compreensão da Bíblia pode ser facilitada pela linguagem empregada na tradução, principalmente em razão da aplicação do método da equivalência funcional. A discussão teórico-metodológica indicou que a dinamicidade das línguas e o confronto causado entre a linguagem “contemporânea” e a “tradicional” já consolidada na consciência linguística dos leitores/ouvintes da Bíblia ameaçam a sobrevida de tais traduções. Além disso, na busca pela simplificação da linguagem, as equipes de tradução lançam mão de estratégias linguísticas que visam a tornar o texto bíblico compreensível. Em consequência, apesar da promoção da democratização do acesso ao texto bíblico, acaba gerando dificuldades à recepção do texto, uma vez que a linguagem dessas traduções se propõe acessível a todos, mas, ao mesmo tempo, pode não ser reconhecida por ninguém em específico.

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Biografia do Autor

Francinaldo de Souza Lima, Pesquisador autônomo

Mestre em Estudos da Tradução (2019) pela Universidade Federal de Santa Catarina. Graduado em Letras Língua Portuguesa e Língua Francesa (2016) pela Universidade Federal de Campina Grande.

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Publicado

31-10-2020

Como Citar

LIMA, Francinaldo de Souza. Bíblias vulgatas brasileiras: relações entre tradução e linguagem. Belas Infiéis, Brasília, Brasil, v. 9, n. 5, p. 115–134, 2020. DOI: 10.26512/belasinfieis.v9.n5.2020.30487. Disponível em: https://periodicos.unb.br/index.php/belasinfieis/article/view/30487. Acesso em: 26 abr. 2024.

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