O dodecassílabo iâmbico misto: uma proposta para a adaptação do verso branco épico inglês ao português
DOI :
https://doi.org/10.26512/belasinfieis.v9.n1.2020.26766Mots-clés :
Verso branco. Métrica silábica-acentual. Tradução poética. Dodecassílabo iâmbico misto. Ritmo binário.Résumé
A tradução do verso branco épico usualmente toma duas formas: fidelidade formal à contagem silábica como recriação do pentâmetro em decassílabos ou fidelidade semântica como transposição adaptativa em versos livres. Ambos os modos causam detrimento aos efeitos particulares da forma original por não transporem à língua de chegada as qualidades essenciais do verso branco inglês: o ritmo cadenciado e constante e a tensão entre o ritmo métrico e o ritmo sintático-semântico. Em nosso artigo, buscamos estudar as qualidades e efeitos que tornam o verso branco épico distinto de outras formas métricas, explorando os mecanismos do pentâmetro iâmbico, seus limites e mutações dentro da tradição inglesa, e como esse verso opera em composições não-rimadas de caráter narrativo e meditativo, nas quais as diferenças entre prosa e poesia tornam-se mais tênues e a métrica toma um caráter ao mesmo tempo menos marcado e mais fundamental. Após esse levantamento, propomos uma nova variação do verso branco em português, o dodecassílabo misto, composto de ritmo iâmbico, formado pela alternância de sílabas átonas e tônicas ou subtônicas, e dodecasílabos acéfalos quando o verso precedente é grave. Ilustramos nosso estudo do verso branco com passagens de The Prelude, de William Wordsworth, e traduzimos trechos da mesma obra segundo nossa medida métrica para determinar sua eficácia. Como resultado, notamos que nossa forma adaptada mostra-se capaz de acomodar aquelas qualidades consideradas essenciais ao verso branco, reformulando, em português, efeitos poéticos frequentemente perdidos no processo de versão de obras inglesas, como o ritmo regular binário e o momento de leitura vertido de um verso a outro de modo integrado. Concluímos, dessa maneira, que uma abordagem não-tradicional das potencialidades métricas da língua portuguesa, em diálogo com os moldes da poesia inglesa, é capaz de abrir novas perspectivas tradutórias para pesquisadores em língua portuguesa e trazer a lume qualidades de tradições métricas distintas que podem oferecer novas ferramentas a seus tradutores.
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