Resiliência socioecológica em comunidades deslocadas por hidrelétricas na Amazônia:

o caso de Nova Mutum Paraná, Rondônia

Autores

  • Berenice Perpetua Simão Secretaria de Educação do Estado de Rondônia - SEDUC
  • Simone Athayde Universidade da Flórida

DOI:

https://doi.org/10.18472/SustDeb.v7n2.2016.17850

Palavras-chave:

Resiliência cultural, Deslocamento, Reassentamento, Reconstrução de identidade, Impactos socioecológicos, Hidrelétricas, Amazônia

Resumo

Este artigo apresenta um estudo interdisciplinar sobre processos de adaptação e resiliência cultural em situações de deslocamento e reassentamento forçado de grupos sociais por implantação de hidrelétricas na Amazônia. São apresentados resultados de uma pesquisa participativa realizada entre a comunidade de Nova Mutum Paraná, Rondônia, após seu deslocamento forçado devido à construção da Hidrelétrica de Jirau. A abordagem teórica integra conceitos das teorias dos sistemas socioecológicos complexos com conceitos originários no corpo teórico da antropologia do desenvolvimento. Métodos incluíram observação participante, oficinas participativas e atividades com grupos focais por um período de quase três anos logo depois do reassentamento. Foram pesquisados o processo de reorganização social e as estratégias de negociação da comunidade com o consórcio construtor, relacionadas ao acesso a recursos de uso comum, priorizando dois espaços de lazer e importância cultural: balneário natural e campo de futebol. Resultados sugerem que o capital social presente na comunidade nas fases iniciais de planejamento e tomada de decisão para a construção de hidrelétricas é um fator crítico no processo de negociação de acões de mitigação relativas ao acesso a bens comuns e serviços. O envolvimento e o apoio de gestores municipais também foram elementos importantes para o fortalecimento da organização social da comunidade. Apesar dos obstáculos e dificuldades, a comunidade persiste em reconstruir os espaços sociais e de convivência comum, buscando assim manter raízes de sua história por meio dos hábitos e costumes praticados na antiga comunidade ribeirinha.

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Biografia do Autor

Berenice Perpetua Simão, Secretaria de Educação do Estado de Rondônia - SEDUC

Mestra em Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente pela Universidade Federal de Rondônia, graduada em Letras e Educação Física, Especialista em Literatura Brasileira e Gestão de Sistemas Complexos na Amazônia. Membro do Grupo de Pesquisa Amazon Dams Network. Pesquisadora em áreas ribeirinhas desde 2008 sendo a terceira e última, em Gestão de Sistemas Sócios Ecológicos e Econômicos Complexos na Amazônia pelas Instituições UNEMAT (BR) e Universidade da Flórida (EUA) com o tema: Resiliência Cultural e gestão participativa. Atua na Educação nas áreas de letras (língua portuguesa, língua Inglesa e literatura) e na área cultural com Danças, desde 2004. É funcionária das Secretarias de Educação do Estado de RO (SEDUC) e do Município de Porto Velho (SEMED). Foi gestora da Fundação Cultural da Prefeitura de Porto Velho/RO onde coordenou a restauração do Complexo Estrada de Ferro Madeira Mamoré e Grupos de Trabalho de intervenção cultural entre comunidades ribeirinhas deslocadas e os Consórcios das Hidrelétricas de Jirau e Santo Antônio. Atualmente, além de atuar como educadora, dá continuidade à pesquisa observando as transformações sócio culturais da comunidade de Nova Mutum Paraná, município de Porto Velho/RO que foi fortemente impactada pela hidrelétrica de Jirau. A referida pesquisa integra estudos do Grupo Amazon Dams Networ.

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Publicado

2016-11-23

Como Citar

Simão, B. P., & Athayde, S. (2016). Resiliência socioecológica em comunidades deslocadas por hidrelétricas na Amazônia:: o caso de Nova Mutum Paraná, Rondônia. Sustainability in Debate, 7(2), 104–117. https://doi.org/10.18472/SustDeb.v7n2.2016.17850

Edição

Seção

Dossiê

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