Editorial / Dossiê Temático
DOI:
https://doi.org/10.26512/vozcen.v4i02.52020Palavras-chave:
Dossiê Temático, EditorialResumo
Editorial / Dossiê Temático
por Ariane Guerra Barros, Cándida Graciela Chamorro Argüello, Daniel dos Santos Colin, Marcos Machado Chaves, Rosa Aparecida do Couto Silva e Sulian Vieira Pacheco
O Dossiê Vozes, Ruídos, Silêncios, Músicas e Decolonialidades: Atravessamentos nas Artes Performativas nasce vinculado à uma história marcada pelo desejo de fazer ressoar vozes, pensamentos e desejos de pessoas articuladas em uma ampla rede que interliga diferentes universidades e grupos de estudos do país. Esse enredo começa em 2020, quando nasce o periódico Voz e Cena, um esforço coletivo de muitas pesquisadoras e muitos pesquisadores das Artes Performativas do Brasil, semente da Rede Voz e Cena - que desde o ano de 2010 existe em compartilhamentos de estudos e práticas vocais em encontros anuais.
Um ano depois, em 2021, iniciam as publicações dos Dossiês Temáticos da Revista Voz e Cena. Reverberações distintas que geram novas sementes em desejos de olhares e escutas a respeito de temas necessários que perpassam vocalidades e os contextos da Arte em nosso país. Depois disso, em 2022, planta-se a ideia do Dossiê Temático Vozes, Ruídos, Silêncios, Músicas e Decolonialidades: Atravessamentos nas Artes Performativas, organizado por pessoas com pesquisas que pulsam a proposta e que se comprometeram a dedicar energias e contribuições múltiplas, em conjunto com as pessoas autoras, para oferecer às pessoas leitoras o presente compilado.
Neste ano corrente, ocorreu o desenvolvimento para publicar, no mês de dezembro, um Dossiê que era semente e hoje se descobre taraxaco, dente-de-leão, uma planta que em alguns lugares do Brasil faz alusão simbólica à esperança em propagações; que brota na adversidade e se faz força, que pode simbolizar resistência. Tal como em um sopro, as palavras aqui podem flutuar - no desejo de distintos alcances deslocados ao vento como nossas vozes.
Em gratidão, iniciamos esse editorial por observar as potências dos trabalhos generosamente compartilhados no Dossiê e por perceber que outras pontes ou edições poderão ser criadas, uma vez que a temática é ampla e maravilhosamente urgente! Sua amplitude parte da dificuldade do Comitê Editorial em marcar um “eixo pontual”: de início o tema partiria de “Músicas e Decolonialidades” com foco nos diálogos vocais/sonoros, e, por tal, não poderíamos suprimir no título a pluralidade da voz, do ruído, do silêncio... Principalmente por dialogar nossos corpos com vozes que podem estar em embates com os contextos socioculturais que vivenciamos, e por querer enfatizar o olhar/escuta às Artes Performativas.
Convidamos a todas, a todos, a todes, a fluírem conosco o presente Dossiê que de alguma forma atravessou, nos artigos e relatos que chegaram, os distintos campos ecoados em sua chamada. Voz, Música e Decolonialidade em: silêncios e silenciamentos; ruídos e interferências; discursos e ações; processos de criação artística; propostas distintas no campo do conhecimento; contato com a educação musical contemporânea; pesquisas antirracistas; diversidade sexual e de gênero; estudos em diálogos com os povos originários; e questionamentos que atravessam o conceito de minoria social.
Abrimos o Dossiê Temático com o artigo de Kika Sena, A voz como recurso poético e político na performance de uma travesti preta e periférica. Mestra pela Universidade Federal do Acre, a autora aborda os caminhos de uma experiência performática cujas possíveis reverberações éticas, poéticas e políticas de uma corpa dissidente encontram ressonância com os berros de denúncia emitidos pela Ovelha Dolly, personagem escrita por Fernando de Carvalho. Provoca o texto: “O que grita mais forte? A exposição de uma ferida na carne de uma corpa definida como abjeta? Os impedimentos de acesso às memórias de uma corpa marginal?” (Sena, 2023). Kika/Dolly vociferam: Bééééééééé!
Na sequência, a pesquisadora Juliana Rangel, da Universidade do Ceará, nos presenteia com o texto Por uma pedagogia reencantada da voz nas artes vivas: pressupostos para uma relação ecológica da voz, onde encontramos interessantes apontamentos a respeito das artes vivas e às abordagens a “uma pedagogia da voz [...] não vocalcêntrica e nem audiocêntrica” (Pereira, 2023), com escrita que parte de um impulso poético do xamã Davi Kopenawa para o processo de pensamento-criação exposto.
O artigo Exercício para pensar o silêncio a partir de perspectivas decoloniais, de Ana Paula Penna da Silva - doutoranda da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro -, continua as reverberações do Dossiê e parte da pergunta “O silêncio existe?”, propondo uma releitura do livro Textos para nada (Samuel Beckett) pelas lentes do animismo e do perspectivismo ameríndio, em diálogos originados em Seminário de seu Programa de Pós-Graduação em Artes Cênicas.
Logo após, a professora Ariane Guerra Barros, da Universidade Federal da Grande Dourados, em conjunto com suas/seus orientandes da linha de pesquisa Corpo e(m) Performance Aline Silva Vieira, Maria Luiza Machado dos Reis, Tatiana Kaori Honda, Davi da Rocha Lima, Ana Carolina de Sousa Silva e Isabela Teles Pereira, trazem o texto Dos silêncios universais: a Roda de Silêncios como degustação do tempo, abordando a performance que o coletivo propôs e estudou em solo douradense: encontros com o público (em lugares com fluxo de pessoas) em convite para sentarem e partilharem silêncios.
O docente Marcos Machado Chaves, da mesma universidade sul-mato-grossense, reverbera Propostas e conceitos para disciplinas de Música e Cena: estudos na UFGD com atravessamentos decoloniais. O artigo divide questionamentos que partem do histórico e das atualizações dos componentes curriculares musicais-teatrais dos cursos de graduação em Artes Cênicas de Dourados, bem como abre compartilhamentos de pesquisas do autor na busca de estudos por elementos que discutam (de)colonialidades na formação de artistas da cena, por pensamentos musicais plurais e acessíveis.
José Manoel de Souza Junior, que finalizou seu Mestrado em 2023 na Universidade Federal da Grande Dourados pesquisando Dramaturgia Sonora, oferece o artigo Análise semiótica das músicas de sala e de cena no Auto da Compadecida de Ariano Suassuna no Mato Grosso do Sul. Na escrita, a análise da montagem do dramaturgo brasileiro encenada pela 7ª Turma de Artes Cênicas da UFGD (2017), e a busca de entender as musicalidades em contato com os estudos culturais em mergulhos provocados pela semiótica.
Na sequência, o pesquisador da Universidade Federal do Acre, Dyonnatan Silva Costa nos traz o texto Revisitando a sonoridade do coro a partir do espetáculo O Organismo, do Grupo Macaco Prego da Macaca, da cidade de Rio Branco/AC. O autor perpassa por inquietações a respeito do coro no espetáculo citado, atravessando observações em vozes faladas, cantadas, exploração de ruídos corporais/vocais, presenteando as pessoas leitoras para conhecerem parte das reverberações desta obra artística acreana.
Por fim, temos dois relatos de experiência. O primeiro, compartilhado por Pedro Barsalini e Juliana Mota da Universidade Federal de São João Del-Rei, Naquela noite não choveu lá fora, choveu dentro de mim: relato de composição e conjecturas acerca do teatro (auto)biográfico. O texto é uma escrita potente e sensível que dialoga a respeito de algumas dificuldades que artistas da cena podem encontrar ao trabalhar com o teatro (auto)biográfico, importante viés conectado à performance que lida com nossas próprias exposições e mergulhos em pessoalidades - o que é desafiante na relação com as (de)colonialidades que contatamos em nossas vidas.
O relato que fecha o dossiê está vinculado a um componente curricular eletivo do Programa de Pós-Graduação em Artes Cênicas da Universidade do Estado de Santa Catarina, Ode ao levante, escrito por Joanna Oliari Macoppi, pontua inquietações que problematizam silêncios que perpassam debates sobre mulheres-mães-artistas-pesquisadoras em histórias contadas pela dor, através de seminário mediado pelas professoras Daiane Dordete e Meran Vargens no ano de 2023.
Assim, o Dossiê Temático Vozes, Ruídos, Silêncios, Músicas e Decolonialidades: Atravessamentos nas Artes Performativas reverbera nove publicações escolhidas - nove sementes que desejam chegar às pessoas leitoras da Revista Voz e Cena - e que abraçam as cinco regiões do Brasil. Sopros que nos levam a distintas direções da roda dos ventos. Que os sopros levem vozes, sussurros, silêncios, gritos, discursos e músicas carregadas de inspirações, dores, vontades e desejos de todas as pessoas envolvidas neste dossiê.
Desejamos boas leituras dessas sementes ao vento.
Comitê Editorial
Dossiê Temático “Vozes, Ruídos, Silêncios, Músicas e Decolonialidades: Atravessamentos nas Artes Performativas”
- Ariane Guerra Barros, Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD);
- Cándida Graciela Chamorro Argüello, Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD);
- Daniel dos Santos Colin, Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS);
- Marcos Machado Chaves, Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD);
- Rosa Aparecida do Couto Silva, Associação Museu Afro Brasil (AMAB);
- Sulian Vieira Pacheco, Universidade de Brasília (UnB).
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