Guerra dos Cem Anos e Cruzadas
a literatura entre a verdade dos fatos e a verdade do sentido
DOI:
https://doi.org/10.26512/emtempos.vi35.28386Palavras-chave:
Cruzadas. Guerra dos Cem Anos. Romance de Melusina.Resumo
Esse artigo tem como objetivo analisar a narrativa a respeito das Cruzadas em um texto literário escrito durante a Guerra dos Cem Anos: Mélusine ou la noble histoire des Lusignan. A obra, do final do século XIV, conta a origem de uma fortaleza e as aventuras da linhagem que lá se originou. Essa família, de fato, teve participação importante nas Cruzadas, tendo Guido de Lusignan se tornado rei de Jerusalém em 1186. No roman, as lutas no Oriente contra os infiéis tem um notável destaque, ocupando, aproximadamente, dois terços da obra. Pretendemos discutir essa evidência apresentando uma reflexão de caráter comparativo e analítico entre o episódio histórico - a ida dos Lusignan à s Cruzadas, no século XII ”“ e a forma como as batalhas dessa linhagem contra os muçulmanos foram descrita por Jean d’Arras nesse texto de 1392. As várias incongruências entre o evento histórico e o que é apresentado no roman nos levam a crer que ao narrar esse episódio Jean d’Arras não tinha em mente as Cruzadas de 200 anos antes. Sua referência, ao que parece, era a relação entre os cristãos e os infiéis em seu contexto: Guerra dos Cem Anos, final do século XIV. A partir dessa constatação instigante pode-se refletir como a narrativa medieval recorria a eventos passados, a partir de um específico regime de historicidade, no qual a verdade do sentido ocupa um lugar mais relevante do que a verdade dos fatos.
Downloads
Referências
Fontes primárias:
COUDRETTE. Le Roman de Mélusine. Tradução, introdução e notas de Laurence Harf- Lancner. Flamarion: Paris, 1993.
D’ARRAS, Jean. Mélusine ou La noble Histoire des Lusignan. Nova edição crítica após o manuscrito da Biblioteca do Arsenal, com as variantes de todos os manuscritos. Tradução, apresentação e notas de Jean-Jacques Vincensini. Paris: Librarie Général Française, 2003.
______________. Romance de Melusina ou A história dos Lusignan. São Paulo: Martins Fontes, 1999.
Livros e artigos:
AUTRAND, Françoise. Jean de Berry. L’art et le pouvoir. Paris: Fayard, 2000.
CARDINI, F. “Guerra e Cruzada”. In: LE GOFF , J. e SCHMITT, J. C. op. cit. pp. 482-483.
CONTAMINE, Philippe. Guerre, état, et société Ã la fin du Moyen Age ”“ études sur les armées des rois de France. 1337-1494. Paris: Mouton, 1972.
____________________. La France au XIVe et XVe siécles. Hommes, mentalités, guerre et paix. Londres: Variorum Reprints, 1981.
EDBURY, P. “The state of research. Cyprus under the Lusignans and Venetians, 1991-1998”. In: Journal of Medieval History. V. 25, n. 1. (1999). p.57-65. p.61.
FLORI, Jean. Guerra Santa. Formação da ideia de cruzada no Ocidente cristão. Tradução de Ivone Castilho Benedetti. Campinas: Editora da UNICAMP, 2013.
HARF-LANCNER, Laurence. Les Fées au Moyen Age - Morgane et Mélusine: La naissance des fées: Champion Honoré, 2000.
HARTOG, F. “Experiências do tempo: da história universal à história global?” In: História, histórias. Brasília, vol. 1, n. 1, 2013. P. 164-179.
HOMET, Raquel. “Une conception politique nobiliaire au temps de la Guerre de Cent Ans”. Journal of Medieval History, v. 15, 1989, p. 309-327.
HUOT, Sylvia. “Dangerous embodiments: Froissart's Harton and Jean d'Arras's Mélusine”. Speculum, n. 78: 2, 2003, p. 400-420.
LECOUTEUX, C. “La structure des légendes melusiniénnes”. Annales. E.S.C. (1978) p. 294-306.
LE GOFF, Jacques & LADURIE, Emmanuel Le Roy. “Mélusine maternelle et défricheuse”. Annales E.S.C., 26, 1971, p. 587-616. 617-620.
LE GOFF, Jacques & SCHMITT, Jean Claude. Dicionário temático do Ocidente Medieval. São Paulo: Edusc, 2002.
MAGEE, James. “Crusading at the court of Charles VI, 1388-1396”. French History, vol. 12, 1998, p. 367-383.
TALMANT, Pierre. “Le solei, un emblème redoutable: une lecture typologique de la crise de folie du roi Charles VI”. Journal of Medieval History, v. 24, n. 1, 1998, p. 23- 64.
VINCENSINI, J-J. Pensée mythique et narrations médiévale. Paris: Honoré Champion, 1996.
ZIMMERMANN, Michel (org.). Auctor & auctoritas. Invention et conformisme dans l’écriture médiévale. Paris: École de Chartes, 2001.
ZINK, M. “Literatura (s)”. In: LE GOFF, J. e SHIMIDTT, J.C. Dicionário temático do Ocidente Medieval. São Paulo: Edusc, 2002. pp.79-93.
ZUMTHOR, Paul. A letra e a voz. A ‘literatura’ medieval. São Paulo: Companhia das Letras, 1993.
_______________. ‘Y a-t-il une ‘literature’médiévale?’. Poétique, n. 66, avr. de 1986, p. 131-139.
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
Autores que publicam nesta revista concordam com os seguintes termos:
- Autores mantém os direitos autorais e concedem à revista o direito de primeira publicação, sendo o trabalho simultaneamente licenciado sob a Creative Commons Attribution License , licença que permite que outros remixem, adaptem e criem a partir do seu trabalho para fins não comerciais, e embora os novos trabalhos tenham de lhe atribuir o devido crédito e não possam ser usados para fins comerciais, os usuários não têm de licenciar esses trabalhos derivados sob os mesmos termos.
- Autores têm autorização para assumir contratos adicionais separadamente, para distribuição não-exclusiva da versão do trabalho publicada nesta revista (ex.: publicar em repositório institucional ou como capítulo de livro), com reconhecimento de autoria e publicação inicial nesta revista.
- Autores têm permissão e são estimulados a publicar e distribuir seu trabalho online (ex.: em repositórios institucionais ou na sua página pessoal) a qualquer ponto antes ou durante o processo editorial, já que isso pode gerar alterações produtivas, bem como aumentar o impacto e a citação do trabalho publicado (Veja O Efeito do Acesso Livre).