Editorial / Dossiê Temático - Práticas e Poéticas Vocais
DOI:
https://doi.org/10.26512/vozcen.v5i02.56547Palavras-chave:
Editorial, Dossiê Temático, Práticas e Poéticas VocaisResumo
Editorial / Dossiê Temático
Práticas e Poéticas Vocais
Por Fernando Aleixo, Domingos Sávio Ferreira de Oliveira e Guilherme Mayer Santos
É com grande satisfação que apresentamos esta publicação de artigos e entrevistas de profissionais pesquisadoras e pesquisadores em voz e arte. Nesta, as leitoras e leitores conhecerão a produção acadêmica atualizada sobre o rico campo de estudos e de atuação em voz e cena. O recorte deste dossiê, portanto, busca apresentar pesquisas e práticas de experiências sobre a preparação técnica e estética do corpo-voz em contextos de criação, ou seja, abordar como a questão da voz pode ser trabalhada em múltiplas perspectivas da criação poética.
Este tema surgiu a partir da reflexão sobre a cena contemporânea, sobretudo posterior às significativas mudanças estéticas de movimentos de vanguarda, em que o campo de pesquisa sobre a voz-corpo e a cena se diversificou em vários sentidos. Neste movimento, numerosos estilos de representação e atuação passaram a conviver ao mesmo tempo, exigindo do ator, da atriz, dos performers, atuadores, narradores, cantores, professores e "coaches", diversos saberes e habilidades técnicas. Uma reflexão se faz possível: para cada processo de criação, se considerarmos a proposta de encenação e a característica corpóreo-vocal de cada integrante do elenco, uma exigência técnica se faz presente e, consequentemente, uma proposta de trabalho corpo-vocal precisará ser formulada considerando tal contexto.
Assim, traçamos um panorama desta temática a partir dos seguintes artigos e entrevistas:
O artigo Composições Corpo-Vocais Interpretativas dos Personagens do Espetáculo analisa e investiga um processo de criação de espetáculo e expõe o processo composicional de algumas personagens corpo-vocalmente. Tal premissa é desenvolvida por meio da análise das vocalidades criadas para as personagens principais. Este texto resulta em uma exposição de como os estudos corpo-vocais podem ser experienciados no contexto do teatro profissional.
A autora do artigo Mapeamentos da Atriz-Poeta-Cantora no rito Pequeno funeral cantante: Odes Mínimas para Hilda Hilst - Grupo Poesia Cantada propõe um mapeamento dos percursos da Atriz-Poeta e cantora em relação à voz falada e cantada no contexto de criação cênica. No percurso proposto, a autora dialoga com os conceitos de ritual, memória, experiência e identificação. Ao fim, são realizadas reflexões sobre o processo composicional em questão.
Já no texto Voz Infantilizada na palhaçaria, os autores dialogam com saberes relacionados à saúde (Fonoaudiologia e Psicologia) e à palhaçaria (jogo cênico do palhaço e a influência da composição/poiesis da voz). As questões levantadas e trabalhadas com base na literatura especializada e afins dimensionam, de modo substancial, os estudos de composição vocal e corporal do palhaço e da palhaça.
Em O Som no espetáculo Erê Bebê: ambiente e banho sonoro podemos refletir sobre o processo composicional das práticas vocais, bem como outras sonoridades, no âmbito do processo criativo do espetáculo Erê Bebê, desenvolvido para a primeiríssima infância de 0 a 3 anos. O artigo desenvolve-se por meio de discussões acerca do sound healing, e resulta em discussões sobre teatro, infância e o papel do som nas relações terapêuticas.
No artigo Vozes à escuta: mímesis vocal, oralidade e memória em processos criativos e pedagógicos observamos um estudo sobre a relação entre escuta, voz e oralidade em uma análise da mímesis vocal em contextos pedagógicos e de criação de cenas. Para isso, o escrito perpassa discussões acerca da prática vocal, performance, música e aspectos prosódicos. O artigo propõe, ao fim, a possibilidade de uma ferramenta de criação e pedagogia decolonial, tendo a voz em seu aspecto singular e relacional.
Na publicação A voz em cena na língua Hãtxa Kuin para não indígenas: Perspectivas poéticas e políticas são reunidos achados da experiência corpo-vocal no processo de criação cênica, a partir do “método” observacional. Através de textos e letras de músicas na língua Hãtxa Kuin, vem à tona questões sociais e históricas relativas às línguas dos povos originários. Um dos pontos subjacentes ao texto, é o apagamento/silenciamento das referidas línguas, a partir da imposição da língua do invasor (o Português). O trabalho coletivo resultou na montagem “Akiri: Quem gritará?”, com a participação efetiva do músico e, também, aluno Yube Huni Kuin, falante da língua Hãtxa Kuin.
O texto Entre a Pedagogia da Voz e a Direção Vocal: reflexões sobre aspectos comuns e autónomos das suas práticas resulta em uma relevante discussão acerca das diferenças e aproximações do fazer da direção vocal e da pedagogia vocal. Nele vemos a análise de como o contexto e tempo de duração do trabalho, condições e expectativas do resultado, papéis e dinâmicas relacionais, bem como competências específicas aproximam-se e diferenciam-se no contexto da direção vocal e trabalho vocal pedagógico. Para o desenvolvimento desta proposta, o autor parte dos seguintes conceitos: autoimagem, congruência e autenticidade vocais; regulação afetiva e hábitos vocais inconscientes.
Temos ainda uma contribuição sobre o processo de ensino integrado do canto popular e do teatro. Trata-se do artigo Transdisciplinaridade da pessoa que canta em cena; conjecturas teóricas e práticas pedagógicas que contribui com caminhos para o aprimoramento das capacidades expressivas da “pessoa que canta em cena através da pró-percepção de sua performance, suas facilidades e limitações”.
Já o artigo Voz e sensibilidade: uma poética do impossível apresenta uma fortuita investigação acerca da sensibilidade vocal na atuação. Para isso, o escrito perpassa por problematizações e argumentações acerca da materialidade poética da voz, dos perigos da busca por modelos vocais, e da produção de marcas na sensibilidade vocal. Este texto resulta em uma contribuição de como a prática de atuação vocal pode ser transformada, assim como outras práticas e poéticas artísticas contemporâneas se transformaram.
Por fim, no artigo Reencantar a Voz em Cena a autora produz um texto narrativo com críticas, reflexões e impressões pessoais, tendo em vista a temática feminista e anticolonial sobre a escuta e produção vocal, com base nos estudos da filósofa feminista Silvia Federici.
O dossiê conta ainda com duas entrevistas que representam grande contribuição, a saber: 1) Microfone headset e lapela no Teatro Musical nacional e internacional: esta entrevista aborda um conteúdo técnico relevante às produções de Musicais no Brasil. A fala do entrevistado é rica e traz informações que podem auxiliar os trabalhos dos produtores e dos artistas do Teatro Musical; 2) Um giro epistêmico para convidar um novo olhar sobre Grotowski e o Workcenter: a partir desta entrevista temos acesso à experiência do pesquisador Luciano Mendes de Jesus, que apresenta um “panorama desde seus passos iniciais sobre o trabalho com o teatro, passando por suas experiências na Europa com o Workcenter até a transformação do seu olhar para chegar em seu projeto artístico atual, fundamentado nos cantos Vissungos”.
Desejamos uma boa leitura!
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