Favelas invisíveis

a produção cartográfica do Rio de Janeiro e a representação das favelas

Resumo

Este artigo apresenta a primeira parte dos resultados de um estudo sobre a presença e/ou ausência das favelas do Rio de Janeiro na cartografia da cidade. Diferentes fontes de dados foram utilizadas: pesquisa nos arquivos da cidade — incluindo as primeiras fotografias aéreas já feitas, registros cartográficos e mapas de infraestrutura das décadas de 1920 e 1930; pesquisas nos códigos de obras; e pesquisas sobre plataformas cartográficas digitais. O objetivo do artigo é investigar quando e como o fenômeno urbano das favelas aparece oficialmente nos registros das cidades, refletindo sobre como esse reconhecimento tardio e inconsistente pode ter afetado a existência do fenômeno em si, uma vez que a falta do seu reconhecimento oficial criou barreiras burocráticas para ações da administração pública. O argumento deste artigo é que a produção cartográfica manteve a favela como parte invisível da cidade e como, principalmente nas últimas décadas, essa invisibilidade foi uma opção política. O artigo conclui que a opção pela invisibilidade contribuiu para que estes grandes territórios se inserissem profundamente no tecido urbano da cidade.