Revisitando o governo João Goulart:

discussões históricas e historiográficas

Resumo

A ideia do artigo é fazer um balanço historiográfico sobre o governo João Goulart, tendo como enfoque especial o golpe civil-militar de 1964 que pôs fim ao seu governo, levando em conta desde a produção no momento em que o fato ocorreu até o início da década de 2020, discutindo como a história e a memória foram sendo reconstruídas e ressignificadas de acordo com as perspectivas dos diferentes contextos e dos diversos atores sociais que estavam em pauta no momento. As bases estruturais escolhidas para compor o texto foram: a análise dos jornalistas sobre o assunto (os textos produzidos no momento), as análises socioestruturais sobre o assunto (passando pelo conceito de populismo e as explicações econômicas), a produção em centros de pesquisas estrangeiros (adaptando fórmulas de análises distintas para a situação brasileira), as análises do período de redemocratização, os novos sentidos buscados nos 40 anos do golpe, as perspectivas advindas da instalação da Comissão Nacional da Verdade e do governo Dilma, bem como a produção ligada ao período de ascensão e consolidação de Jair Bolsonaro no poder (e a contestação em relação à sua visão). É possível indicar como conclusão que, conforme a época e os sentidos das análises, João Goulart perpassou por inúmeras faces: do homem despreparado para ocupar o cargo, passou por aquele que foi tragado pelas condicionantes e pouco poderia fazer algo, sendo resgatado como um grande estadista e, por fim, problematizado como um homem que, com suas contradições, procurou implantar um modelo de governo dentro de sua perspectiva sobre a política. A justificativa de tal abordagem ocorre pela urgência em pensar como os ecos da ditadura ainda se fazem ouvir nos dias atuais, tendo em vista toda a movimentação advinda do governo de Jair Bolsonaro (2019-2023), seja pelas manifestações do 07 de setembro, como pelo bloqueio de rodovias e os acampamentos nos quartéis no final de 2022, que culminaram com a tentativa de ocupação de Brasília em 08 de janeiro de 2023.