Vol. 7 No. 2 (2019): Dossiê "Espinosa"
A violência nas palavras. De família portuguesa, escolhido o nome de Bento (ou Baruch) ao nascer na comunidade judaica de Amsterdã, ninguém imaginaria que Espinosa, ainda na tenra juventude e neste mesmo lugar, dela seria excomungado sob a mais violenta acusação que inverteria o sentido de seu nome, transformando-o sob a pecha de "Maldito". Proscrito uma vez, e, logo depois, mais uma vez acusado de herege pela Santa Sé, Espinosa será o primeiro filósofo de origem judaica a ser incluído no Index. Mais ainda, ninguém imaginaria que, um século depois, a palavra "espinosista" seria usurpada de seu sobrenome para tornar-se sinônimo de grave acusação da qual muitos tiveram que se defender e que, contudo, não se encerrou no século XVIII, pelo contrário, persevera nas polêmicas das tantas querelas dos espinosimos dos séculos seguintes.
Contudo, se no fio da história a filosofia de Espinosa é constantemente retomada no turbilhão por vezes ensurdecedor de múltiplas acusações daqueles tomados pelo horror frente ao seu sistema, é preciso ressaltar todavia que sua retomada nunca é consensual e que, simultaneamente, apresentaram-se intensos elogios, por dissonantes vozes, em reinterpretações por vezes divergentes que procuraram defendê-lo, muitos dos quais nele identificaram o seu próprio projeto filosófico e por isso de se aproximaram ou, inversamente, por nele encontrarem um caminho sem volta rumo a uma filosofia encerrada em si mesma, dela afastaram-se vigorosamente para evitar o perigo de serem engolidos em sua trama geométrica, aquela "máquina infernal" de proeza demonstrativa inescapável.