Do matricídio à placentação
DOI:
https://doi.org/10.26512/dasquestoes.v17i1.51315Palavras-chave:
Matricídio, Placenta, Ontologia, Luce IrigarayResumo
O presente texto, apresenta dois momentos da filosofia de Luce Irigaray: a crítica à ontologia do matricídio e a proposta de uma ontologia atenta ao processo de placentação. Para isso dois textos são evocados: Le Corps à Corps avec la mère e À propos de l’ordre maternel. O texto acompanha as reflexões propostas pela autora belga, apontando que a atenção ao processo material de placentação pode dar origem a uma ontologia relacional que sirva de contraponto a um individualismo metafísico. Para apresentar os termos dessa oposição, o texto reflete sobre a panóptica do útero exemplificada pela imagem Spaceman de Lennart Nilsson: ao retratar o feto como um astronauta, Nilsson produz o apagamento da gestante. A figura está investida no processo de humanização do feto, e pela efetuação do matricídio como apagamento. A atenção para o processo de placentação, por outro lado, permite entender o processo coletivo de vir-a-ser. Na tensão (política) entre as duas ontologias, individualismo e relacionalidade estão em jogo e, por isso mesmo, estão também em jogo distintas formas de habitar o mundo.
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