Do matricídio à placentação

Autores

  • Alice Gabriel IFG/UNB

DOI:

https://doi.org/10.26512/dasquestoes.v17i1.51315

Palavras-chave:

Matricídio, Placenta, Ontologia, Luce Irigaray

Resumo

O presente texto, apresenta dois momentos da filosofia de Luce Irigaray: a crítica à ontologia do matricídio e a proposta de uma ontologia atenta ao processo de placentação. Para isso dois textos são evocados:  Le Corps à Corps avec la mère e À propos de l’ordre maternel. O texto acompanha as reflexões propostas pela autora belga, apontando que a atenção ao processo material de placentação pode dar origem a uma ontologia relacional que sirva de contraponto a um individualismo metafísico. Para apresentar os termos dessa oposição, o texto reflete sobre a panóptica do útero exemplificada pela imagem Spaceman de Lennart Nilsson: ao retratar o feto como um astronauta, Nilsson produz o apagamento da gestante. A figura está investida no processo de humanização do feto, e pela efetuação do matricídio como apagamento. A atenção para o processo de placentação, por outro lado, permite entender o processo coletivo de vir-a-ser. Na tensão (política) entre as duas ontologias, individualismo e relacionalidade estão em jogo e, por isso mesmo, estão também em jogo distintas formas de habitar o mundo.

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Publicado

2023-11-06

Como Citar

GABRIEL, Alice. Do matricídio à placentação. Das Questões, [S. l.], v. 17, n. 1, 2023. DOI: 10.26512/dasquestoes.v17i1.51315. Disponível em: https://periodicos.unb.br/index.php/dasquestoes/article/view/51315. Acesso em: 21 nov. 2024.