CLARICE, A TRADUTORA ENTRE MIL E UMA NOITES
DOI:
https://doi.org/10.26512/cerrados.v29i54.31616Palavras-chave:
Clarice Lispector tradutora, Jornal, Tradução, Estudos da Tradução, Literatura ComparadaResumo
Clarice Lispector escreveu e publicou crônicas semanárias no Jornal do Brasil, a partir de 1967. Sua atividade como cronista foi de suma importância para o seu projeto literário, visto que, com frequência, a autora de A paixão segundo G. H. utilizou o espaço do jornal para refletir sobre o seu papel de escritora, jornalista, tradutora, mãe, intelectual, bem como tratou dos constantes entraves vivenciados diante do processo criador. Nesse contexto, Clarice publicou, em um pequeno espaço do “Caderno B” do referido jornal, uma tradução do conto “Historia de los dos que soñaron”, de autoria inicialmente atribuída a Jorge Luis Borges, apesar de a edição do periódico não ter apresentado o feito como uma tradução. A partir disso, o presente artigo visa a um estudo da pequena versão e seu possível vínculo ao projeto da escritora, considerando o fato de que as traduções por ela assinadas ocuparam, não raras vezes, o lugar da criação literária frente aos leitores do jornal e, por conseguinte, atrelaram seus papéis de escritora e tradutora. Vale ressaltar que a tradução da pequena narrativa evoca complexos entraves no âmbito tradutório, pois o texto atribuído ao escritor argentino na página do jornal trata-se, na verdade, de uma tradução da noite 351 d’As mil e uma noites efetuada por Borges e publicada em Historia universal de la infamia (1935). Desse modo, objetivamos problematizar, por meio dos Estudos da Tradução em sua interface com a Literatura Comparada, a maneira por meio da qual a escritora brasileira entra em contato com narrativas orientais e se mostra, talvez, inconscientemente, enviesada por todo um modo borgeano de criação/tradução.
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