Redobro de possessivos: o desaparecimento em português e o surgimento em francês

Autores

  • Ana Regina Calindro Universidade Federal do Rio de Janeiro
  • Hannah Manes Universidade Federal do Rio de Janeiro

Palavras-chave:

possessivos, redobro, clíticos, português, francês

Resumo

Nosso objetivo é analisar o desaparecimento do redobro dos possessivos de 3ª pessoa em português (seu N dele) e seu surgimento em francês (son N à lui, e suas variações de pessoa). A diferença fundamental é que em francês, os possessivos são clíticos deficientes e em português são pronomes fortes e fracos. O redobro desapareceu em português devido à mudança no paradigma dos pronomes, com a entrada de novos elementos, como você. Assim, os itens deficientes começaram a ser substituídos por pronomes fortes e passaram a não mais figurar em estruturas de redobro. Já em francês, o redobro ocorre porque elementos deficientes podem se valer de um elemento forte que lhes permita dar uma interpretação plena ao seu referente, seja ele o possuidor ou o possuído, no caso dos possessivos. No entanto, não é sempre necessário que os referentes tenham essa interpretação plena, ou seja, o uso do redobro não é obrigatório, pois é utilizado pragmaticamente quando se quer desfazer alguma ambiguidade referencial ou dar ênfase à relação de posse, como ocorre em francês.

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Publicado

16.07.2024