Novas hipóteses sobre a debucalização de /s/ no português brasileiro

Autores

  • Fábio dos Santos Tenório Universidade Federal de São Paulo
  • Indaiá Bassani Universidade Federal de São Paulo

Palavras-chave:

debucalização, Fonologia Autossegmental, fricativa não-vozeada

Resumo

Debucalização é um processo fonológico caracterizado pela perda da articulação supraglotal com preservação do movimento de abertura da glote. Em uma abordagem autossegmental, o processo é caracterizado por meio do desligamento do nó de ponto. O segmento perde seus traços de cavidade oral e passa a ter somente traços laríngeos, emergindo como [h] ou [?]. Este squib descreve e analisa tal processo no português brasileiro sob a ótica do modelo teórico proposto pela Fonologia Autossegmental, utilizando um conjunto de dados extraídos da literatura. Verificou-se que apesar de a debucalização ocorrer majoritariamente em coda silábica, podendo afetar, nessa posição, exclusivamente a fricativa não-vozeada /s/, os ambientes em que aparece são heterogêneos. Portanto, sugerimos que o traço fonológico [+spread] no próprio segmento alvo /s/ é o gatilho do processo. Após a problematização, permanece no horizonte da pesquisa a investigação de dados provenientes da cidade Fortaleza, uma vez que nesse dialeto fricativas vozeadas (/v/, /È/ e /z/) podem ser afetadas.

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Biografia do Autor

Fábio dos Santos Tenório, Universidade Federal de São Paulo

Graduando em Letras (Português/Espanhol) pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP). 

Indaiá Bassani, Universidade Federal de São Paulo

Bacharelado em letras (português e linguística - 2002-2006), licenciatura em português (2006-2007), mestrado em linguística (2007-2009) e doutorado na mesma área (2009-2013) pela Universidade de São Paulo, com estágio Sanduíche na Universidade da Pensilvânia (jan-dez/2012). Atua nas áreas de morfologia e suas interfaces com a sintaxe (estrutura argumental), semântica verbal e fonologia. Atualmente é professora Adjunto A-I no curso de Letras da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP).

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Publicado

15.02.2017