Uma vocação para durar

estratégias discursivas e agências imperiais nos anos 1950

Autores/as

  • Carla Susana Alem Abrantes

Palabras clave:

saber colonial, ciência, ensino superior, administração colonial, Angola

Resumen

O presente artigo analisa discursos e agências que sustentaram o processo de dominação colonial em Angola nos anos 1950 tomando como base o saber colonial. Situando-o como prática discursiva, esse saber será vislumbrado com base em narrativas originadas em uma formação especializada oferecida em Lisboa para profissionais da gestão colonial. Da descrição e análise antropológica dos trabalhos finais de alunos, localizam-se estratégias discursivas que i) tomaram os africanos como trabalhadores que não correspondiam a um ideal, ii) ampliaram classificações sociais consideradas um “problema” para a administração, para além da “questão indígena” e iii) compartilharam um Estado imaginado em uma relação de dependência e, portanto, responsável pela administração de populações merecedoras de seus cuidados. Percorrem-se os lugares sociais dos textos escritos no ensino superior de administração colonial para uma compreensão das configurações sociais envolvidas no desenvolvimento de saberes administrativos projetados para territórios longínquos na década de 1950. Com esse microuniverso, delineiam-se as bases para diferenciações entre “nós” e “eles”, os seus efeitos assimiladores e homogeneizadores, e os pressupostos e condições de possibilidade para o exercício de uma vocação imperial.

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Publicado

2018-02-07

Cómo citar

Abrantes, Carla Susana Alem. 2018. «Uma vocação Para Durar: Estratégias Discursivas E Agências Imperiais Nos Anos 1950». Anuário Antropológico 40 (2):173-97. https://periodicos.unb.br/index.php/anuarioantropologico/article/view/6702.

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