O poder da invisibilidade
Palavras-chave:
AntropologiaResumo
Durante minha pesquisa de campo na Guiné-Bissau em 1987-1988 e em 1992, ouvi muitas vezes estórias que versavam sobre os poderes especiais que tinham certos líderes nacionalistas e combatentes na luta pela libertação nacional. Dentre esses poderes, o que mais chamou a minha atenção foi a capacidade que os heróis da pátria tinham de ficar invisíveis em situações de contato armado com as forças portuguesas. Este artigo representa um esforço para analisar essas narrativas. Pretendo demonstrar que elas são uma expressão simbólica do estado liminar da sociedade crioula da Guiné-Bissau. Creio não haver qualquer dificuldade em perceber que o período da guerra colonial (1963-1974), com toda a violência e com toda a desestruturação que uma tal situação acarreta, foi de fato um período de passagem, de liminaridade. No entanto, passados vinte anos da independência do país, essas estórias continuam a circular em Bissau e em outras cidades da Guiné, indicando que elas permanecem portadoras de significação para aqueles que as contam e as ouvem. Meu argumento é que elas continuam a fazer sentido porque, ainda hoje, a mensagem que veiculam permanece sendo basicamente a mesma que veiculavam nos anos da guerra e imediatamente após a independência. Em outras palavras, a liminaridade que penso caracterizar a sociedade crioula não é um atributo específico de um momento histórico particular, mas algo inerente e constante a essa sociedade, a despeito das inúmeras transformações nela ocorridas nestes últimos vinte anos.
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