O nascimento do Brasil

revisão de um paradigma historiográfico

Autores

  • João Pacheco de Oliveira

DOI:

https://doi.org/10.4000/etnografica.2580

Palavras-chave:

Antropologia Histórica, Índios do Nordeste, Guerra de Conquista, Formação do Brasil-Colônia, Categorias e saberes coloniais

Resumo

A história do Brasil como é habitualmente contada torna inteiramente inviável pretender compreender a importância dos indígenas na fundação da colônia bem como na construção da nacionalidade. Sem que se exerça sobre ela uma crítica radical, apontando sua ineficácia enquanto instrumento descritivo e analítico, explicitando os pressupostos políticos e ideológicos em que se assenta, rompendo com o paradigma historiográfico existente, é impossível compreender os processos atuais de mobilização política, re-elaboração cultural e demarcação identitária pela qual passam as populações indígenas do nordeste, área onde começou a colonização do país. A categoria de “pacificação”, que constituiu um dos pilares básicos da política colonial e ainda hoje se expressa na classificação dos indígenas segundo um gradiente que vai de “isolados” a “integrados”, só tem valor militar e administrativo, não analítico. As narrativas e interpretações produzidas pela história oficial sobre os indígenas desconhecem por completo a especificidade dos seus pontos de vista e de suas estratégias. Classificam de forma maniqueísta, através da oposição extermínio e proteção, as ações e episódios em que estão envolvidos os indígenas sem chegar a uma compreensão efetiva do espaço político que ocuparam e das múltiplas formas de resistência que colocaram em prática. Ao assim proceder tal discurso revela-se como peça fundamental para legitimar a tutela, naturalizando-a, e persistindo em ignorar as vozes e iniciativas dos indígenas reais.

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Publicado

2018-02-23

Como Citar

Oliveira, João Pacheco de. 2018. “O Nascimento Do Brasil: Revisão De Um Paradigma historiográfico”. Anuário Antropológico 35 (1):11-40. https://doi.org/10.4000/etnografica.2580.

Edição

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