Antinegritude, racismo fundiário e seletividade racial no meio rural brasileiro
DOI:
https://doi.org/10.1590/s0102-6992-20254002e51220Palabras clave:
antinegritude; racismo fundiário; seletividade racial do Estado; quilombolas; terra e territórioResumen
A partir das contribuições do campo de estudos críticos de raça, das discussões de racismo fundiário e de seletividade racial, propomos racializar o debate sobre a questão agrária e os sujeitos políticos envolvidos na luta pela terra e que conformam outras territorialidades, dissidentes em relação à racionalidade proprietária de matriz branca, partindo da constatação de que ainda estão em franca construção os elementos teóricos e conceituais para trabalhar as relações raciais nesse debate. Nossa proposta é trazer alguns conceitos e formulações, trabalhados a partir de exemplos empíricos, que auxiliem no tratamento e na análise das diferentes formas pelas quais os povos negros e originários são excluídos do acesso à terra, dos direitos e formas de viver associados a ela. Na primeira parte do artigo propomos um olhar sobre os estudos da questão agrária brasileira a partir da discussão de antinegritude. Na segunda parte trabalhamos com os conceitos de racismo fundiário e de seletividade estratégica do Estado para caracterizar o processo histórico de sedimentação de mecanismos de seleção negativa quando se trata de sujeitos negros tentando garantir seu acesso à terra. Na terceira parte discutimos a indisfarçável recusa ao negro no processo de titulação territorial do território quilombola Sesmaria do Jardim no Maranhão, refletindo a partir de um caso empírico no qual se faz presente o racismo fundiário, a seletividade racial e a antinegritude.
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