“Se não é igual a gente, não vai entrar”: branquitude e cotas em concursos para o magistério federal

Autores/as

DOI:

https://doi.org/10.1590/s0102-6992-20254003e59123

Palabras clave:

branquitude, ações afirmativas, cotas raciais, concursos públicos, carreira docente

Resumen

Este artigo objetiva analisar os mecanismos da branquitude que influenciam na implementação de cotas raciais nos concursos para a carreira docente em instituições públicas federais de ensino, de modo a manter os privilégios do grupo racial branco. Em termos metodológicos, a pesquisa apresentou abordagem qualitativa e crítica, em que foram realizadas cinco entrevistas em profundidade com servidores Técnico-Administrativos em Educação (TAE) de uma universidade federal, que já assessoraram concursos para magistério que previam a aplicação de cotas raciais. Os resultados da pesquisa apontaram que as articulações da branquitude desdobraram-se no reforço da ideia de tradicionalismo inerente à universidade, na mobilização de redes de influência para a estruturação das etapas do concurso – incluindo a definição dos temas das provas e composição das bancas examinadoras –, além da condução de processos avaliativos que pavimentaram caminhos para que pessoas brancas fossem aprovadas no concurso, mesmo com a vaga destinada à cota racial.

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Biografía del autor/a

Dyego de Oliveira Arruda, Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca (Cefet/RJ)

Possui Doutorado em Administração de Organizações pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente é professor do quadro permanente do Programa de Mestrado em Relações Étnico-raciais (PPRER) do Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca (Cefet/RJ). É também professor permanente (externo) do Programa de Mestrado e Doutorado em Políticas Públicas, Estratégias e Desenvolvimento (PPED) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Tem interesse e experiência nos seguintes temas: políticas públicas; ações afirmativas; políticas de cotas; raça, racismo, branquitude e diversidade em contextos institucionais. 

Marcos Napoleão do Rêgo Paiva Dias Filho, Universidade Federal da Bahia (UFBA)

Possui Mestrado em Relações Étnico-Raciais pelo Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca (Cefet/RJ) e Bacharelado em Direito pela Universidade Federal da Bahia (UFBA). Atualmente é servidor público da carreira de Técnico-Administrativo em Educação (TAE) da UFBA e membro da Associação dos/as Advogados/as de Trabalhadores Rurais no Estado da Bahia. Possui experiência e interesse nos seguintes temas: políticas públicas; ações afirmativas; Estudos Críticos da Branquitude; movimentos sociais.

Gabriela dos Santos Coutinho, Colégio Pedro II e Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)

Doutoranda pelo Programa de Pós-Graduação em Educação (PPGE) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Possui Mestrado em Relações Étnico-Raciais pelo Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca (Cefet/RJ). Atualmente é professora do quadro permanente do Colégio Pedro II no Rio de Janeiro e pesquisadora vinculada ao Núcleo de Estudos Afro-brasileiros e Indígenas da instituição (NEABI/CPII). Desenvolve pesquisas sobre letramentos das relações étnico-raciais, políticas públicas educacionais e ações afirmativas.

Talita de Oliveira, Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca (Cefet/RJ)

Possui Doutorado em Letras pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio). Atualmente é professora titular do Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca (Cefet/RJ), atuando, na condição de docente permanente, no Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Relações Étnico-Raciais (PPRER) e no Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Filosofia e Ensino (PPFEN), ambos no Cefet/RJ. Tem experiência na área de Linguística, com ênfase em Linguística Aplicada, Sociolinguística Interacional e Estudos Narrativos e Identitários de orientação interacional.

Citas

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Publicado

2025-12-19

Cómo citar

Arruda, D. de O., Dias Filho, M. N. do R. P., Coutinho, G. dos S., & Oliveira, T. de. (2025). “Se não é igual a gente, não vai entrar”: branquitude e cotas em concursos para o magistério federal. Sociedade E Estado, 40(03), e59123. https://doi.org/10.1590/s0102-6992-20254003e59123

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