“Se não é igual a gente, não vai entrar”: branquitude e cotas em concursos para o magistério federal
DOI:
https://doi.org/10.1590/s0102-6992-20254003e59123Palabras clave:
branquitude, ações afirmativas, cotas raciais, concursos públicos, carreira docenteResumen
Este artigo objetiva analisar os mecanismos da branquitude que influenciam na implementação de cotas raciais nos concursos para a carreira docente em instituições públicas federais de ensino, de modo a manter os privilégios do grupo racial branco. Em termos metodológicos, a pesquisa apresentou abordagem qualitativa e crítica, em que foram realizadas cinco entrevistas em profundidade com servidores Técnico-Administrativos em Educação (TAE) de uma universidade federal, que já assessoraram concursos para magistério que previam a aplicação de cotas raciais. Os resultados da pesquisa apontaram que as articulações da branquitude desdobraram-se no reforço da ideia de tradicionalismo inerente à universidade, na mobilização de redes de influência para a estruturação das etapas do concurso – incluindo a definição dos temas das provas e composição das bancas examinadoras –, além da condução de processos avaliativos que pavimentaram caminhos para que pessoas brancas fossem aprovadas no concurso, mesmo com a vaga destinada à cota racial.
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