Interpretações do Brasil e a temporalidade moderna: do sentimento de descompasso à crítica epistemológica

Autores

DOI:

https://doi.org/10.1590/s0102-6992-202136030010

Palavras-chave:

pensamento brasileiro; modernidade no Brasil; teoria sociológica; interpretações do Brasil; modernidade

Resumo

Ao revisitar algumas das mais prestigiadas obras de interpretação do Brasil, o artigo debruça-se sobre o sentimento de descompasso que permeia os retratos da vida social brasileira ali delineados. A conjectura que se quer examinar é que, admitida a pluralidade de perspectivas que colorem essa fatura, tais obras insinuam primar no país um ordenamento temporal intricado e sinuoso, apenas em parte sincronizado ao tempo homogêneo, progressivo e linear dos contextos modernos modelares. Importa-me, ademais, contemplar um conjunto de formulações críticas ao imaginário sociológico com o propósito de explorar uma segunda hipótese: tão logo apreciados em diálogo com essas proposições críticas, retratos da sociedade brasileira esboçados nessas obras parecem dispor de elementos sugestivos de um enquadramento teórico sensível às incongruências, assimetrias e tensões que atravessam a temporalidade moderna. Ao final do artigo, pretendo refletir sobre o alcance heurístico dessas ideias e suas eventuais contribuições para o debate sociológico contemporâneo.

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Biografia do Autor

Sergio Barreira de Faria Tavolaro, Universidade de Brasília - UnB

Professor do Departamento de Sociologia e do Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade de Brasília. Bolsista pesquisador do CNPq. Doutor em sociologia pela The New School for Social Research (USA).

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Outras fontes:

Manifesto Pau-Brasil (1924)

Manifesto Antropofágico (1928)

Manifesto Nhegaçu Verde Amarelo (1929)

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Publicado

24-11-2021

Como Citar

de Faria Tavolaro, S. B. (2021). Interpretações do Brasil e a temporalidade moderna: do sentimento de descompasso à crítica epistemológica. Sociedade E Estado, 36(03), 1059–1082. https://doi.org/10.1590/s0102-6992-202136030010

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