AS AVENTURAS DE ROBERTO LYRA FILHO CONTRA O BARÃO DE MUNCHHAUSEN: POR UM DIÁLOGO CRÍTICO COM A HERMENÊUTICA FILOSÓFICA
Palavras-chave:
humanismo dialético, Roberto Lyra Filho, hermenêutica filosófica, relativismo radical, materialismo históricoResumo
O artigo realiza um convite ao diálogo com a hermenêutica filosófica e o relativismo radical, a partir da problematização de algumas críticas que estas apresentam ao humanismo dialético proposto por Roberto Lyra Filho. Contra a pretensão de verdade inscrita na dialética social do direito, a hermenêutica filosófica parece recorrer a uma radicalização do “paradigma do Barão de Munchhausen”, pois nega a possibilidade de acesso à verdade objetiva na História e identifica no método dialético da concepção lyriana uma espécie de retorno à metafísica hegeliana. Tal posição é então problematizada a partir de uma diferenciação entre o materialismo histórico e a Filosofia da História, o que nos permite também estabelecer contrastes com a perspectiva filosofia heideggeriana – base da hermenêutica de Gadamer. Defendemos que a pretensão de verdade e de legitimidade da concepção materialista da História, que inspira o método lyriano, decorre não apenas da dimensão metodológica mas também de uma perspectiva calcada na Sociologia do Conhecimento e na crítica da economia política. Nesse sentido, o culturalismo inerente à hermenêutica filosófica parece incorrer em uma teoria “agnóstica” da História por não concebê-la a partir do prisma da luta de classes, e apontamos que, ao invés de recorrer ao Espírito do Tempo hegeliano, a dialética social do direito se inspira no Anjo da História teorizado por Walter Benjamin, enquanto teoria que assume o ponto de vista dos oprimidos e oprimidas.
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