v. 9 n. Especial (2020): Museus, Museologia, Comunicação, Recepção

Instalação - Museu de Arte Sacra - Olinda - PE  Foto: Teresa Scheiner, fevereiro de 2020

Este número especial da Revista Museologia e Interdisciplinaridade ”“ Museus, Museologia, Comunicação, Recepção - celebra a essência do Museu como instancia comunicacional absoluta, fenômeno que se configura simultaneamente em processo e como produto muito especial das interfaces entre o humano e o real, ou suas diferentes “dobras”, a que chamamos realidades. É um tema que permanece atual, considerando a avassaladora presença das mídias ”“ especialmente as mídias digitais - em nosso cotidiano e sua influencia na cultura do presente. É importante lembrar sempre onde e como se colocam os museus, na Atualidade; e como vêm-se adaptando às novas linguagens comunicacionais. Museus se conectam com todos os tempos e espaços, mas é no hoje que se comunicam: o uso de linguagens atualizadas (incluindo a linguagem do marketing) é fundamental para que suas narrativas possam verdadeiramente impactar as sociedades do presente.

A teoria nos ensina que o Museu é um fenômeno social, de profundo significado educativo: em suas formas instituídas, quaisquer que sejam, museus atuam de forma dinâmica, não apenas no estudo e conservação da cultura em todos os tempos e espaços, mas também propiciando novos conhecimentos e experiências de vida que contribuem, de modo positivo, para o desenvolvimento humano e o bem estar social. E o fazem oferecendo experiências vivenciais de observação, estudo e experimentação dos processos e produtos da natureza e da ação humana em toda a sua trajetória. Nesse contexto ocupam lugar especial os museus universitários, que dão a conhecer os modos e formas pelos quais se constrói o saber formal sobre as coisas do mundo e as coisas “das gentes”; e desenvolvem experiências de compartilhamento democrático do saber formal, onde o conhecimento acadêmico é interpretado nas suas interfaces com o conhecimento informal de todos os grupos sociais.

Como dispositivos comunicacionais plenos, museus permitem uma ampla conexão com todos os planos perceptuais e com as diferentes dimensões da razão e dos sentidos. Essa comunicação se dá especialmente através das exposições. Entende-se aqui a exposição como o produto de um ato de criação coletiva, que reúne as percepções de mundo de todos aqueles que, de alguma forma, foram e são responsáveis pela sua realização: toda exposição oferece um recorte de mundo que possibilita a cada individuo uma experiência transformadora. Os graus de transformação irão variar, dependendo da experiência imersiva de cada pessoa no espaço da exposição. 

Do ponto de vista da recepção, toda exposição é um objeto semiótico, polivalente, e configura um texto a ser reconhecido e percebido como “entidade comunicacional” ”“ um mecanismo que precisa ser atualizado por um destinatário, através de um processo interpretativo. O texto expositivo captura os sentidos e provoca alguma forma de “leitura”, a partir de dispositivos combinatórios próprios a cada experiência. Toda exposição se articula assim como espaço de linguagem, que se dirige a indivíduos reais, e não a entidades teóricas designadas como “publico alvo”, “visitante”, ou “publico geral”. Empreender a análise sistemática de audiências constitui, portanto, um movimento necessário para o desenvolvimento de uma museologia dialógica (ou dialogal), isto é, uma experiência comunicacional ”“ já que o diálogo é a matriz e a essência mesma da comunicação.

T. Scheiner, dezembro de 2020

Publicado: 2020-12-09

Editorial

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    Ana Lúcia de Abreu Gomes, Clovis Carvalho Britto, Monique Batista Magaldi
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