A DESCOLONIZAÇÃO DOS PATRIMÔNIOS SUBALTERNIZADOS E O RECONHECIMENTO DA INSURGÊNCIA PATRIMONIAL DOS QUILOMBOS NO BRASIL

Autores/as

DOI:

https://doi.org/10.26512/insurgncia.v6i2.29645

Palabras clave:

Quilombos. Resistência. Patrimônio cultural. Contemporaneidade. Decolonialidade patrimonial.

Resumen

A proposta de artigo tem como objetivo abordar o patrimônio cultural da população quilombola brasileira (comunidades formadas por descendentes de escravizados que fugiam desse processo opressivo) como uma hipótese de descolonização patrimonial. Incluídos na narrativa oficial do Estado Nação (§ 5º do art. 216), em processo relevantíssimo de resistência à escravidão do passado, os quilombos, tiveram a sua contemporaneidade afirmada no art. 68 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias - ADCT, como fenômeno e sujeitos de direitos de um presente que ainda não soube lidar e compensar as dívidas históricas com aqueles que foram vítimas da opressão, da escravidão e do racismo do Estado colonial e imperial brasileiro. Para tanto, a partir de revisão de literatura, o trabalho pretende reafirmar a hipótese decolonial da patrimonialidade quilombola, a partir da necessidade de reconhecimento e inclusão, nas políticas patrimoniais brasileiras, da resistência quilombola aos processos de opressão constituídos pela escravidão, os quais se perpetuam desde a Abolição da escravidão, em 1888. A revisão crítica de literatura antropológica, histórica e jurídica, aliada à análise documental de processos administrativos junto ao IPHAN constituem a metodologia.

Biografía del autor/a

Paulo Fernando Soares Pereira, Universidade de Brasília - UnB

Doutor em Direito, Estado e Constituição pela Universidade de Brasília - UnB, pela linha Constituição e Democracia (2019), com período de pesquisa na Universidade Nacional da Colômbia e no Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil - CPDOC (Escola de Ciências Sociais da Fundação Getúlio Vargas - FGV). Desenvolve pesquisa a respeito da formulação de políticas patrimoniais voltadas para as comunidades quilombolas. Pesquisa, atualmente, Direito das relações raciais, racismo institucional e cultural, patrimonialização e reconhecimento de patrimônios subalternizados pelo Estado-Nação. Mestre em Direito e Instituições do Sistema de Justiça pela Universidade Federal do Maranhão - UFMA (2014), onde desenvolveu pesquisa sobre o direito ao desenvolvimento cultural, a necessidade de fortalecimento da sociedade civil local e a desburocratização das políticas patrimoniais, como forma de evitar a judicialização excessiva das questões que envolvem o patrimônio cultural imobiliário no Centro Histórico de São Luís/MA. Graduado em Direito pela Universidade Federal de Roraima - UFRR (2006). É integrante da Advocacia Geral da União - AGU, exercendo o cargo de Procurador Federal, com exercício no Estado do Maranhão. Atua em questões envolvendo a implementação de Políticas Públicas Federais, especialmente aquelas que dizem respeito aos direitos à educação (acesso, permanência e sistema de cotas), saúde (acesso ao SUS, através de hospitais universitários), cultura (defesa do patrimônio cultural edificado do Centro Histórico de São Luís/MA e outras questões culturais), ambiental, minerário, reforma agrária, infraestrutura, regulação e responsabilidade civil da Administração Pública Federal Indireta, através da atuação em processos judiciais individuais e coletivos. Professor Universitário.

Citas

Referenciais
CASTELLANOS V., Gonzalo. Patrimonio cultural: integración y dessarrollo en América Latina. Bogotá: Fondo de Cultura Económica, 2010.
CHOAY, Francoise. A alegoria do patrimônio. Tradução de Luciano Vieira Machado. 4. ed. São Paulo: Estação Liberdade ”“ UNESP, 2006.
DUSSEL, Enrique. Oito ensaios sobre cultura latino-americana e libertação. Tradução de Sandra Trabucco Valenzuela. São Paulo: Paulinas, 1997.
DERRIDA, Jacques: Mal de arquivo: uma impressão freudiana. Tradução de Cláudia de Moraes Rego. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 2001.
FANON, Frantz. Pele negra, máscaras brancas. Tradução de Renato da Silveira. Salvador: EDUFBA, 2008.
FARRANHA, Ana Cláudia. Equidade e Participação: percurso na construção de um programa de governo. Revista Observatório Brasil da Igualdade de Gênero. Brasília: Secretaria de Políticas para as Mulheres, p. 97-112, abr. 2014.
GARCÍA CANCLINI, Néstor; URTEGA, Maritza (coord.). Cultura y desarrollo: una visión crítica desde los jóvenes. Buenos Aires: Paidós, 2012.
GARCÍA CANCLINI, Néstor. Culturas híbridas: estratégias para entrar e sair da Modernidade. Tradução de Ana Regina Lessa et al. 4. ed. São Paulo: EDUSP, 2015.
GIDDENS, Antony. O Estado-Nação e a violência: II volume de uma crítica contemporânea ao materialismo histórico. Tradução de Beatriz Guimarães. São Paulo: EDUSP, 2008.
GONZÁLEZ-VARAS IBÁÑEZ, Ignacio. Las ruinas de la memoria: ideas y conceptos para una (im)posible teoria del patrimonio cultural. Ciudad de México: Siglo Veintiuno Editores, 2014.
________. Patrimonio cultural: conceptos, debates y problemas. Madrid: Ediciones Cátedra, 2015.
GRIMSON, Alejandro. Los límites de la cultura: crítica de las teorías de la identidad. Buenos Aires: Siglo Veintiuno, 2015.
HALL, Stuart.A identidade cultural na pós-modernidade. Tradução de Tomaz Tadeu da Silva e Guacira Lopes Louro. 11. ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2006.
HERMET, Guy. Cultura e desenvolvimento. Tradução de Vera Lúcia Lúcia Joscelyne. Petrópolis: Vozes, 2002.
KIRSHENBLATT-GIMBLETT, Barbara. Destination culture: tourism, museums, and heritage. Berkeley: University of California Press, 1998.
MALIGHETTI, Roberto. Arenas identitárias e cidadania: políticas e práticas do confronto. Revista de Políticas Públicas, São Luís (UFMA), número especial, p. 181-192, ago. 2010b.
NASCIMENTO JUNIOR, José do. Economia de museus. Brasília: MinC/IBRAM, 2010.
NDLOVU-GATSHENI, Sabelo. Coloniality of power in postcolonial Africa: myths of decolonization. Dakar: Codesria, 2013.
________. El movimento estudiantil “Rhodes debe caer” (Rhodes Must Fall): las universidades sudafricanas como campo de lucha. Tabula Rasa: Revista de Humanidades, Bogotá (Universidad Colegio Mayor de Cundinamarca), nº 25, p. 195-224, 2016a.
POLOUT, Dominique. Uma história do patrimônio no Ocidente, séculos XVIII-XXI: do monumento aos valores. Tradução de Guilherme João de Freitas Teixeira. São Paulo: Estação Liberdade, 2009.
POLOUT, Dominique. Museo y museología. Traducción de Juan Calatrava. Madrid: Abada Editores, 2011.
QUIJANO, Aníbal. Dominación y cultura: notas sobre el problema de la participación cultural. In: QUIJANO, Anibal. Cuestiones y horizontes: de la dependência histórico-estructural a la colonialidade/descolonialidad del poder. Buenos Aires: CLASCO, 2014, p. 668-690.
RUFER, Mario. Reinscripciones del pasado: nación, destino y poscolonialismo em la historiografia de África Occidental. Ciudad de México: El Colegio de México, Centro de Estudios de Asia y África, 2006.
________. Monuments, museums and re-articulation of nation: pedagogies, performances and subaltern apprehensions of memory. Intercultural Communication Studies (ICS), Kingston (University of Rhode Island), vol. XVI, nº 2, p. 158-177, 2007.
________. La temporalidad como política: nación, formas de pasado y perspectivas poscoloniales. Memoria y Sociedad, Bogotá (Pontificia Universidad Javeriana), vol. 14, nº 28, p. 11-31, ene./jun. 2010.
________. La nación en escenas: memoria pública y usos del pasado en contextos coloniales. Ciudad de México: El Colegio de México, Centro de Estudios de Asia y África, 2010b.
________. La memoria de los otros: sulbaternidad, poscolonialismo y regímenes de verdade. REALIS: Revista de Estudos AntiUtilitaristas e PosColoniais, Recife (UFPE), vol. 1, nº 01, p. 13-43, jan./jun. 2011.
RUFER, Mario. Introducción: nación, diferencia, poscolonialismo. In: RUFER, Mario (org.). Nación y diferencia: procesos de identificación y formaciones de otredad en contextos poscoloniales. Ciudad de México: Itaca, 2012, p. 9-43.
________. Experiencia sin lugar en el lenguaje: enunciación, autoridad y la historia de los otros. Revista Relaciones: estudios de historia y sociedad, Zamora de Hidalgo (El Colegio de Michoacán, México), vol. 133, p. 79-115, invierno. 2013.
________. La exhibición del otro: tradición, memoria y colonialidad en museos de México. Antíteses, Londrina (UEL), vol. 7, nº 14, p. 94-120, jul./dez. 2014.
________. La comunidad melancólica. Etnicidad, patrimonio comunitario y memoria en México. KLA Working Paper Series, Bielefeld (Bielefeld Universität, Alemanha), vol. 12, p. 1-21. 2014b.
________. Paisage, ruina y nación. Memoria local e historia nacional desde narrativas comunitarias en Coahuila. Cuicuilco: Revista de Ciencias Antropológicas, México (Instituto Nacional de Antropología e Historia ”“ INAH), vol. 21, nº 61, p. 103-136, sep./dic. 2014c.
RUFER, Mario. La memoria como profanación y como pérdida: comunidad, patrimonio y museos en contextos poscoloniales. A Contra corriente: una revista de estudios latino-americanos, Raleigh (North Caroline State University), vol. 15, nº 2, p. 149-166, winter 2018.
SANTOS, Jocélio Teles dos. O poder da cultura e a cultura do poder: a disputa simbólica da herança cultural negra no Brasil. Salvador: EDUFBA, 2005.
SEGATO, Rita Laura. Gênero e colonialidade: em busca de chaves de leitura e de um vocabulário descolonial. E-cadernos CES [On-line], Epistemologias feministas: ao encontro da crítica radical, Coimbra (Universidade de Coimbra), nº 18, p. 106-131, 2012.
SEGATO, Rita Laura. Que cada povo teça os fios da sua história: o pluralismo jurídico em diálogo didático com legisladores. Direito.UnB: Revista de Direito da Universidade de Brasília, vol.1, nº 01, p. 65-92, jan./jun. 2014.
TAMAZO, Izabela. A expansão do patrimônio: novos olhares sobre velhos objetos, outros desafios... Sociedade e Cultura, Goiânia (UFG), vol. 08, nº 02, p. 13-36, jul./dez. 2005.
VARGAS ÁLVAREZ, Sebastián. Reseña del libro: Mario Rufer. La nación en escenas. Memoria pública y usos del pasado em contextos poscoloniales. Intersticios Sociales: revista Semestral de Ciencias Sociales y Humanidades, Zapopan (El Colegio de Jalisco, México), ano 4, nº 8, sep. 2014.
VELASCO MAILLA, Honorio; PRIETO DE PEDRO, Jesús (eds.). La diversidad cultural: análisis sistemático e interdisciplinar de la Convención de la UNESCO. Madrid: Editorial Trotta, 2016.
VICH, Victor. Desculturizar la cultura: la gestión cultural como forma de acción política. Buenos Aires: Siglo Veintiuno Editores, 2014.
WADE, Peter. Compreendendo a “África” e a “negritude” na Colômbia: a música e a política da cultura. Estudos Afro-Asiáticos, Rio de Janeiro (UCAM), ano 25, nº 1, p. 145-178, 2003.

Publicado

31.07.2020

Cómo citar

SOARES PEREIRA, Paulo Fernando. A DESCOLONIZAÇÃO DOS PATRIMÔNIOS SUBALTERNIZADOS E O RECONHECIMENTO DA INSURGÊNCIA PATRIMONIAL DOS QUILOMBOS NO BRASIL. InSURgência: revista de direitos e movimentos sociais [InSURgência: revista de derechos y movimientos sociales], Brasília, v. 6, n. 2, 2020. DOI: 10.26512/insurgncia.v6i2.29645. Disponível em: https://periodicos.unb.br/index.php/insurgencia/article/view/29645. Acesso em: 24 nov. 2024.

Artículos similares

<< < 1 2 3 4 5 6 7 8 > >> 

También puede {advancedSearchLink} para este artículo.