Um Modelo Alternativo para a Cognição Direta de Estados Mentais Elementares de Terceiros

Autores

DOI:

https://doi.org/10.26512/rfmc.v9i1.41035

Palavras-chave:

Enactivismo. Teoria da Interação. Teoria da Teoria. Teoria da Simulação. Corpos Estendidos.

Resumo

Meu objetivo consiste em desenvolver um modelo teórico alternativo para a cognição direta dos estados elementares de terceiros à chamada Teoria da Interação (doravante TI), também conhecida como abordagem da “segunda pessoa”. O modelo que proponho emerge de uma reformulação crítica do modelo de percepção deslocada (displaced perception) proposto por FRED DRETSKE (1995), entretanto, para o conhecimento introspectivo dos próprios estados mentais. Contra Dretske (1995), sustento, primeiro, que o conhecimento das emoções básicas não depende de crenças chamadas “crenças conectivas” que sugerem, contra o ele mesmo pretende, uma indução empírica. Ademais, contra Dretske, sustento que nenhuma meta-representação (representação de segunda ordem de uma representação de primeira ordem como uma representação) está envolvida no processo, mas apenas conceitos bastante rudimentares das emoções de terceiros: contentamento e descontentamento. A rigor, todos os dados e achados empíricos oriundos da psicologia do desenvolvimento apoiam apenas a hipótese de que criança em fase pré-linguística compreende perceptualmente (ou seja, de forma não mediada por inferências) expressões faciais básicas de contentamento e descontentamento. A minha proposta alternativa consiste então no seguinte. A percepção direta dos estados mentais elementares de terceiros não é uma percepção em sentido usual do termo segundo o qual percebemos coisas, mas uma “percepção de fatos”. Mas como entende-la? Ela nada mais é do que um processo epistemológico ao mesmo tempo automático e confiável. É confiável no sentido externista-epistemológico de não envolver nenhuma inferência, reflexão, teorização ou justificativa epistêmica: a percepção do bebê da expressão facial do descontentamento da mãe (percepção usual de algo) não constitui nenhuma razão em favor da “crença” que a mãe está descontente. A própria palavra “crença” não deve ser entendida no sentido usual, mas no sentido de uma inclinação natural pela verdade. Mas é ao mesmo tempo automático porque a crença é a resultante ou output de um processo inteiramente subliminar de natureza computacional. Assim, por exemplo, uma criança percebe que a sua mãe está descontente (fact-awareness) ao perceber de forma consciente (“percepção” em sentido usual) a expressão facial de descontentamento (input sensorial), mas reconhece que a mãe está descontente como o resultado (output) de um processo inteiramente subliminar.

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Biografia do Autor

Roberto Horácio de Sá Pereira, Universidade Federal do Rio de Janeiro, UFRJ

Professor titular da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Bolsista de Produtividade em Pesquisa do CNPq - Nível 1C. Possui graduação em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1986), mestrado em Filosofia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1989) e doutorado em Filosofia - Freie Universität Berlin (1993). Pós-doutor pela Universidade de Viena (2014). Tem experiência na área de Filosofia, com ênfase em Filosofia da mente e epistemologia, tendo como foco de pesquisa as seguintes sub-áreas: filosofia da crença, filosofia da percepção e filosofia da consciência.

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Publicado

08-12-2021

Como Citar

PEREIRA, Roberto Horácio de Sá. Um Modelo Alternativo para a Cognição Direta de Estados Mentais Elementares de Terceiros. Revista de Filosofia Moderna e Contemporânea, [S. l.], v. 9, n. 1, p. 89–125, 2021. DOI: 10.26512/rfmc.v9i1.41035. Disponível em: https://periodicos.unb.br/index.php/fmc/article/view/41035. Acesso em: 8 maio. 2024.