Creative absences

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Caroline Marim

Resumo

Buscando afirmar a vida como uma característica do “espaço vazio”, Alfred North Whitehead aponta a vida como um processo do “entre”, no qual o pensamento processual vê toda a realidade como um todo interconectado. Isso significa que uma “sociedade viva” é aquela que inclui algumas “ocasiões vivas” que fluem através do vazio. Para o butô de Hijikata Tatsumi o estado de vazio compreende o pré-movimento. O corpo no butô é sempre processo, inacabado, perecível, indistinto de gênero e do lugar onde está e eternamente em crise. Tanto sua ambivalência como suas ausências fazem parte da sua construção e o torna único. O butô consiste exatamente em dançar uma vida comportando um vazio. Em seu trabalhoDançarina Doenteencontramos insetos, fungos, uma descrição de pequenas sensações de tudo o que tocava ou penetrava o corpo da infância. Porém, seu propósito não é apenas o de descrever micropaisagens e micromovimentos ou suas memórias de infância, mas também restituir a gênese da dança, que é o próprio processo de vida e morte. Não é por acaso que ele se mistura aos doentes, pessoas deficientes, ou as mulheres. Hijikata busca alcançar uma dimensão abstrata que amplie os sentidos e onde os sentimentos se transformem. Considerando a teoria do sentir de Whitehead, de que nós respondemos às coisas em primeiro lugar, sentindo-as e somente depois identificando-as e reconhecendo-as. Ou, que emoções não causam estados corporais, mas antes, os estados corporais vêm em primeiro lugar, e as emoções surgem deles. De que modo, uma filosofia do corpo, a experiência imediata que investiga o olho que vê e a mão que toca, como nos ensinou Hijikata, é a única justificativa possível para qualquer pensamento? Seu ponto de partida nada mais é do que a observação analítica dos componentes dessa experiência, as próprias emoções. Vida e morte, ausência e presença, luz e sombra, o corpo esgotado, a fragilidade como motor, nada mais é do que a fragilidade procurada para dançar a vida comportando o vazio.

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Como Citar
MARIM, Caroline. Creative absences. Das Questões, [S. l.], v. 7, n. 2, 2021. DOI: 10.26512/dasquestoes.v7i2.31865. Disponível em: https://periodicos.unb.br/index.php/dasquestoes/article/view/31865. Acesso em: 7 dez. 2025.
Seção
Artigos

Referências

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