Intimidades expostas: a era tipográfica, a introspecção, a sinceridade e o romance
DOI:
https://doi.org/10.26512/cerrados.v32i63.43109Palavras-chave:
Gramatologia, Sinceridade, RomanceResumo
O presente artigo propõe explorar as relações entre o surgimento do romance moderno, a mudança de consciência promovida pela transformação da cultura lecto-oral em uma cultura tipográfica, comentada por Walter Ong, e a ascensão do conceito de sinceridade como valor moral, descrita na obra de Lionel Trilling. Observa-se que o valor dado à sinceridade decorre do desenvolvimento de uma sociedade burguesa sustentada pela divisão entre um mundo público (hostil e marcado pela dissimulação da vida social) e um mundo privado, entendido como santuário e refúgio, o que fornece um espaço ideal não apenas para o hábito solitário da leitura de romances, mas também para se promover a introspecção. A criação de personagens dotados de uma vida interior complexa, como os que começam a povoar os romances dos séculos XVIII e XIX, que mantêm um contato íntimo com o leitor, expondo uma privacidade que até pouco tempo atrás sequer existia como conceito, é uma inovação que deriva desse contexto, ao mesmo tempo em que o reforça, na medida em que conduz os leitores a refletirem sobre sua própria experiência de vida.
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