A Biblioteca da Casa do Pessoal da Fábrica Maceira-Liz: um lugar de instrução, controlo e doutrinação

Autores

DOI:

https://doi.org/10.26512/rici.v17.n3.2024.53215

Palavras-chave:

Biblioteca privada, Arquivo empresarial, censura, Estado Novo, Best-sellers, Leitura literária

Resumo

A Fábrica Maceira-Liz (Gândara, Leiria, Portugal), empresa de cimentos fundada em 1923, procurou atrair mão-de-obra com a elaboração de um programa de assistência social para a habitação, saúde, educação e ocupação dos tempos livres. Entre os diversos equipamentos culturais e recreativos no seu Bairro Social, a biblioteca era espaço de encontro, lazer, instrução, e, simultaneamente, doutrinação política e moral. O objetivo deste trabalho é analisar a coleção da biblioteca da Casa do Pessoal. É um estudo exploratório que faz revisão da literatura sobre a censura literária no Estado Novo (1933-1974), e analisa os inventários da biblioteca para identificar as obras permitidas e/ou proibidas, complementando com análise documental do respetivo arquivo. Para melhor ilustrar o objetivo, opta-se pela análise de um caso, em close reading do livro Um Marido Ideal de Max Du Veuzit (1934, tradução portuguesa 1941) no sentido de perceber o poder subversivo da ficção e o impacto na gestão de uma coleção. A censura aos livros realizada na biblioteca pelo pároco do Bairro Social, enquadra-se na dimensão político-ideológica e na necessidade de controlo e moralização do Povo, estratégia global do Estado Novo. Toda a coleção de livros de Max Du Veuzit de então está, hoje, ausente da coleção.

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Biografia do Autor

Ana Margarida Dias da Silva, Universidade de Coimbra, Centro de História da Sociedade e da Cultura, Coimbra, Portugal

Doutorada em Ciências da Informação pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, com investigação financiada pela FCT [SFRH/BD/132115/2017] (2022), Mestre em Ciências da Informação e da Documentação, ramo Arquivo, pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa (2014), Mestre em História Contemporânea na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra (2014), o Curso de Especialização em Ciências Documentais, ramo Arquivo, na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra (2006), e Licenciatura em História, variante História da Arte, da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra (2003).  Profissionalmente, exerce funções de arquivista desde 2004, em diferentes arquivos públicos e privados de Coimbra. Atualmente é arquivista no Departamento de Ciências da Vida da Universidade de Coimbra. É investigadora integrada do Centro de História da Sociedade e da Cultura da Universidade de Coimbra (CHSC-UC).

Cláudia Sousa Pereira, Universidade de Évora, Centro Interdisciplinar de História, Culturas e Sociedades (CIDHEUS), Évora, Portugal

Cláudia Sousa Pereira é Professora Auxiliar c/ Agregação (Departamento de Linguística e Literaturas) na Universidade de Évora. Concluiu o Doutoramento em Literatura Portuguesa em 2000 pelo(a) Universidade de Évora, é Mestre em Literatura Comparada pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa (1994), tem Licenciatura em Línguas e Literaturas Modernas Variante Português e Francês pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas Universidade Nova de Lisboa (1989). É investigadora integrada no Centro Interdisciplinar de História, Culturas e Sociedades (CIDHEUS) da Universidade de Évora.

Referências

Fontes manuscritas

Arquivo Histórico Fábrica da Maceira-Liz, Casa do Pessoal, Atas (1923-1974)

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Publicado

2024-11-07

Como Citar

Silva, A. M. D. da, & Pereira, C. S. (2024). A Biblioteca da Casa do Pessoal da Fábrica Maceira-Liz: um lugar de instrução, controlo e doutrinação. Revista Ibero-Americana De Ciência Da Informação, 17(3), 505–523. https://doi.org/10.26512/rici.v17.n3.2024.53215