Sentidos do milagre durante e depois da pandemia da Covid-19: implicações psicossociológicas

Autores/as

DOI:

https://doi.org/10.1590/s0102-6992-20243903e53577

Palabras clave:

Pandemia, Pós-Pandemia, Milagre, Fenomenologia, Mídia.

Resumen

Em meio à crise existencial, científica e socioeconômica desencadeada na pandemia da covid-19, a vida humana foi profundamente afetada. Mais que nunca, a expressão “milagre” circulou nas mídias de modo exaustivo e contundente, metamorfoseando-se em diferentes concepções. Este artigo, fundamentando-se numa leitura fenomenológica e em diálogo da psicologia com a sociologia compreensiva, objetiva discutir o tema, num exercício de desvelamento dos diversos sentidos dessas concepções, vivências e representações do milagre no mundo da vida, buscando distinguir e compreender suas múltiplas implicações existenciais e psicossociais durante e após a pandemia. Ilustra-se esse desvelamento com reportagens que circularam na mídia, apresentando-se também um modelo, inspirado na fenomenologia hursseliana, com vistas a favorecer uma leitura compreensiva desse fenômeno social e suas relações com a espiritualidade, a religiosidade e a religião. O estudo mostra que as diversas concepções ilustradas podem ter implicações psicossociais saudáveis, e.g. promovendo esperança ou resiliência, ou danosas, e.g. alimentando ideologias neoliberais/colonizadoras

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Biografía del autor/a

Marta Helena Freitas, Universidade Católica de Brasília (UCB)

Psicóloga, doutora em Psicologia, com pós-Doutoramentos em Psicologia da Religião (University of Kent at Canterbury, UK), Psicologia Intercultural (Universidade do Porto, Portugal) e Antropologia da Religião (University of Wales Trinity University Saint David, UK). Professora do Programa de Psicologia da e do Curso de Graduação em Psicologia da Universidade Católica de Brasília (UCB), com produção técnica e bibliográfica em psicologia da religião, tanatologia, gerontologia, Psicodiagnóstico de Rorschach, fenomenologia e formação em psicologia. Coordenadora do "Laboratório Religião, saúde mental e cultura" - UCB. Integrante do CRIARCOMC (Criatividade, Inovação, Comunicação, Marketing e Cidades) - USP. Bolsista Produtividade em pesquisa CNPQ. Honorary Research Fellow na University of Wales Trinity Saint David. Membro da American Psychology Association - APA. Presidente da International Association for the Psychology of Religion (IAPR).

Miriam Martins Leal , Escola Superior de Ciências da Saúde (ESCS)

Médica pela Escola Superior de Ciências da Saúde (ESCS), pediatra pelo Hospital Materno Infantil de Brasília (HMIB) e médica-pediatra concursada na Unidade de Neonatologia do HMIB. Docente Adjunta do Curso de Medicina do Centro Universitário de Brasília (CEUB). Mestre em Ciências da Saúde pela ESCS e doutoranda em Psicologia na Universidade Católica de Brasília (UCB), integrando o laboratório “Religião, Saúde Mental e Cultura”. Atualmente participando do Programa de Doutorado Sanduiche da CAPES, pela University of Coventry, Reino Unido. Membro da Sociedade Brasileira de pediatria (SBP), da International Association for the Psychology of Religion (IAPR) e da European Academy of Religion (EuARe).

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ZALUAR, A. Milagre e castigo divino. Religião e sociedade, n. 5, p. 161-187, 1980.

Publicado

2024-11-28

Cómo citar

Freitas, M. H., & Martins Leal , M. (2024). Sentidos do milagre durante e depois da pandemia da Covid-19: implicações psicossociológicas. Sociedade E Estado, 39(03), e53577. https://doi.org/10.1590/s0102-6992-20243903e53577

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