O Cristo negro entre anjos proibidos
Raça, religião e representação no Brasil dos anos 1940 e 1950
Palabras clave:
arte brasileira, relações raciais, Teatro Experimental do Negro, Abdias do Nascimento, Nelson Rodrigues, Gregório FortunatoResumen
Vários episódios da cena cultural brasileira nas décadas de 1940 e 1950 associaram figuras e encarnações do sagrado cristão a representações ou temáticas da negritude. Em especial, as expressões “anjo negro” e “Cristo negro” obtiveram destaque
fora do comum nos debates pela imprensa, principalmente (mas não exclusivamente) por causa da encenação em 1948 da peça Anjo negro, de Nelson Rodrigues, e do Concurso do Cristo de Cor, certame artístico promovido pelo Teatro Experimental do Negro, em 1955. Entre esses dois pontos, a caçada jornalística a Gregório Fortunato, chefe da segurança de Getúlio Vargas, apelidado de “o anjo negro” acrescentou uma dimensão política à expressão. O presente artigo examina o entrecruzamento desses debates a fim de compreender melhor os modos como o racismo brasileiro foi posto em xeque e, a opressão.
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