O Cristo negro entre anjos proibidos
Raça, religião e representação no Brasil dos anos 1940 e 1950
Palavras-chave:
arte brasileira, relações raciais, Teatro Experimental do Negro, Abdias do Nascimento, Nelson Rodrigues, Gregório FortunatoResumo
Vários episódios da cena cultural brasileira nas décadas de 1940 e 1950 associaram figuras e encarnações do sagrado cristão a representações ou temáticas da negritude. Em especial, as expressões “anjo negro” e “Cristo negro” obtiveram destaque
fora do comum nos debates pela imprensa, principalmente (mas não exclusivamente) por causa da encenação em 1948 da peça Anjo negro, de Nelson Rodrigues, e do Concurso do Cristo de Cor, certame artístico promovido pelo Teatro Experimental do Negro, em 1955. Entre esses dois pontos, a caçada jornalística a Gregório Fortunato, chefe da segurança de Getúlio Vargas, apelidado de “o anjo negro” acrescentou uma dimensão política à expressão. O presente artigo examina o entrecruzamento desses debates a fim de compreender melhor os modos como o racismo brasileiro foi posto em xeque e, a opressão.
Downloads
Referências
AGRELA, Lucas. Como Jesus se transformou em um loiro de olhos claros? Exame, 19 jul. 2020. Disponível em: <https://exame.com/ciencia/como-jesus-setransformou- em-um-loiro-de-olhos-claros/ >. Acesso em 19 ago. 2022.
ALVARENGA, João. O santo de toda gente. Revista da Semana, p. 42-43, 23 abr. 1955. APRESENTAÇÃO de “Anjo negro” ou muito barulho por nada..., A. Revista da Semana, p. 36-38, 17 abr. 1948. ARTES plásticas. Tribuna da Imprensa, p. 2, 20 jul. 1955. Caderno 2. AUTO do Nordeste. Tribuna da Imprensa, p. 5, 12-13 out. 1957. Tribuna dos livros.
BASTOS, Clemente de Magalhães. Cristo de côr, idéia que suscitou debates artísticos e sociológicos. Diário de Notícias, p. 5, 31 jul. 1955. Suplemento literário.
BARNABÉ. Rádio e TV. Dois minutos com Haroldo Costa. Correio da Manhã, p. 5, 04 dez. 1959. 2º caderno.
BITTENCOURT, Adalzira. Cristo negro. Jornal do Brasil, p. 1, 03 jul. 1955. 2º caderno.
BOSI, Alfredo. Dialética da colonização. São Paulo: Companhia das Letras, 1992.
CAMPOS, Maria José. Arthur Ramos: Luz e sombra na antropologia brasileira: Uma versão da democracia racial no Brasil nas décadas de 1930 e 1940. Rio de Janeiro: Edições da Biblioteca Nacional, 2004.
CANTON, Ciro. Das “velhas senzalas” às “novas favelas”: a Missa dos Quilombos. ANPUH – XXV Simpósio Nacional de História, 2009, p. 1-10.
CARDOSO Benevenuto. Exposições. Jornal do Brasil, p. 2, 23 out. 1955. 2º caderno.
CARDOSO, Rafael. Imaginação diaspórica ou apropriação cultural? A afrobrasilidade nas obras de Dimitri Ismailovitch e Maria Margarida Soutello. Modos: Revista de História da Arte, v. 6, n. 1, p. 378-410, 2022a.
CARDOSO, Rafael. Modernidade em preto e branco: Arte e imagem, raça e identidade no Brasil, 1890-1945. São Paulo: Companhia das Letras, 2022b.
CARREIRA, Violeta de Alcântara. Caixa de ressonância. Maria Margarida e sua pintura. Revista da Semana, p. 45, 17 jan. 1948.
CINEMA. Anjo diabólico. Correio da Manhã, p. 11, 26 mar. 1947. CRISTO negro visto pelos artistas. Tribuna da Imprensa, p. 1, 18 jul. 1955a. Caderno 2.
CRISTO fosse preto, Se. Tribuna da Imprensa, p. 3, 22 jul. 1955b.
Caderno 2. CRISTO de cor. Correio da Manhã, p. 14, 26 jul 1955c. 1º caderno.
DOMINGUES, Petrônio. A cor na ribalta. Ciência e Cultura, n. 63, p. 52-55, 2011.
DOUXAMI, Christine. Teatro Negro: A realidade de um sonho sem sono. AfroÁsia, 25-26, p. 313-363, 2001.
EXPOSIÇÃO de pintura Maria Margarida – D. Ismailovitch. Vida Doméstica, p. 40, out. 1946.
FERNÁNDEZ, Marta & SANTIAGO, Vinícius. Anjo negro: As fundações racistas do Estado no Brasil. Latin American Research Review, v. 54, n. 1, p. 121-134, 2019.
FERREIRA, Claudia Monique Silva. A encenação de “O filho pródigo” de Lúcio Cardoso: primeira peça escrita para o Teatro Experimental do Negro. Cadernos Cênicos, v. 2, n. 3, 2020.
FICÇÃO, história e crítica: uma entrevista do editor José Olympio sobre o movimento literário em 1945. Correio da Manhã, p. 1, 24 dez. 1944. 2ª seção. REVISTA VIS VOL. 21 – nº 1 (2022) – JAN - JULHO - ISSN 2447-2484.
FREITAS, Anna Lee R. de. A missa bárbara rezada por Glauber Rocha em A idade da terra: um êxtase místico anti-literário e metateatral. XI Congresso Internacional da ABRALIC, 2008.
GREGÓRIO desmente, em juízo, a revista “O Cruzeiro”. Última Hora, p. 5, 13 out. 1954a.
GREGÓRIO Fortunato entrevistado, 1954b. 1 vídeo (37 segundos). Publicado pelo canal Picilone_. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=zZXx- AjCXFo. Acesso em: 19 ago. 22.
JOEL torcedor. Cuidado com o América. Última Hora, p. 14, 19 nov. 1953.
LARKIN NASCIMENTO, Elisa. O sortilégio da cor: Identidade, raça e gênero no Brasil. São Paulo: Selo Negro, 2003.
LARKIN NASCIMENTO, Elisa. Cristo epistêmico. ILHA: Revista de Antropologia, v. 18, n. 1, p. 81-105, 2016.
LEAL, Maria Lucia. Anjo negro: Sexo e raça no teatro brasileiro. Urdimento, n. 16, p. 67-75, 2011.
LESSA, Washington Dias. Dois estudos de comunicação visual. Rio de Janeiro: Ed. UFRJ, 1995.
LIMA, Carlos de Araújo & FORTUNATO, Gregório. Gregório desmente “O Cruzeiro” e protesta contra uma chantagem. Última Hora, p. 6, 08 out. 1954.
LIMA, Magela. Os nordestes e o teatro brasileiro. Jundiaí: Paco Editorial, 2019, cap.2.
MACIEL, Anor Butler. O “Anjo negro” no Ministério da Justiça. Gazeta de Notícias, p. 5, 21 mar. 1948.
MAGNO, Paschoal Carlos. “Anjo negro” e a censura. Correio da Manhã, p. 11, 31 dez. 1947.
MAGNO, Paschoal Carlos. “Anjo negro”, no Fenix. Correio da Manhã, p. 15, 06 abr. 1948.
MOREL, Mário. Eu pintei o anjo negro. Revista da Semana, p. 35-36 e 46, 30 mai. 1953.
NASCIMENTO, Abdias do. Teatro Experimental do Negro: trajetória e reflexões. Estudos Avançados, v. 18, n. 50, p. 223, 2004.
NETO, João Evangelista do Nascimento. E se houvesse discriminação no Brasil? O Cristo negro de Ariano Suassuna e o racismo à brasileira. Linha Mestra, n. 30, p. 848-852, 2016.
NOGUEIRA, Kiko. Jesus não era branco: a jornalista americana que ressuscitou o debate sobre a cor da pele de JC. Portal Geledés, 18 dez. 2013. Disponível em: https://www.geledes.org.br/jesus-nao-era-branco-a-jornalista-americanaque- ressuscitou-o-debate-sobre-a-cor-da-pele-de-jc/. Acesso em 19 ago. 2022.
NUNES, Mario. Teatros. Fenix. O Anjo negro. Jornal do Brasil, p. 8, 06 abr. 1948.
OSCAR, Henrique. Teatro. Resposta paciente a uma leitora muito indignada. Diário de Notícias, p. 8, 03 mar. 1957a. 1ª seção.
OSCAR, Henrique. O “Auto da compadecida” de Ariano Suassuna. Diário de Notícias, p. 4-5, 24 mar. 1957b. Suplemento literário.
[OSCAR, Henrique]. O livro por dentro: Auto da compadecida. Jornal do Brasil, p. 3, 13 out. 1957c. 2º caderno, suplemento dominical.
PEÇA mais discutida do Brasil – “Anjo negro” – estreará hoje, no Fenix, A. Correio da Manhã, p. 11, 02 abr. 1948.
PRIMEIRAS teatrais. Anjo negro no Fênix. A Noite, p. 2, 03 abr. 1948.
RABELLO, Jessica Maria Marques. Rainha do Brasil: O mito de Nossa Senhora de Aparecida e a construção da identidade católica na Primeira República. Dissertação (Mestrado em História) – Programa de Pós-Graduação em História, Universidade Federal Fluminense, Niterói, 2019.
RAMOS, Guerreiro. Nosso Senhor Jesus Cristo Trigueiro. Diário de Notícias, p. 2 e 4, 10 abr. 1955. Suplemento literário. REPORTAGEM na base do Galeão. A Noite, p. 6, 22 set. 1954.
RIBEIRO, Violeta. A respeito de “Anjo negro”. Correio da Manhã, p. 27, 11 abr. 1948.
ROCHA, Antônio. Os inimigos não mandam flores. Manchete, p. 45, 25 jul. 1953.
RODRIGUES, Nelson. Censura policial. Correio da Manhã, p. 2, 16 mar. 1948a.
RODRIGUES, Nelson. “Anjo negro” e a cegonha. O Jornal, p. 2, 11 jul 1948b. Revista.
ROMANCE póstumo de Cordeiro de Andrade, Um. O Jornal, p. 3, 21 abr. 1946. Revista.
SHIOTA, Ricardo Ramos. Guerreiro Ramos e a questão racial no Brasil. Temáticas, v. 22, n. 43, p. 73-102, 2014.
SOUZA, Silvia Cristina Martins de. O palco como tribuna: Uma interpretação de O demônio familiar, de José de Alencar. Curitiba: Aos Quatro Ventos, 2003.
SUASSUNA, Ariano. Racismo e capitalismo. Folha de S. Paulo, 07 mar. 2000. Disponível em https://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/fz0703200006.htm. Acesso em: 19 ago 2022.
TEATRO. A Noite, p. 6, 04 dez. 1947.
TEATRO: O caso do “Anjo negro” na censura teatral. A Noite, p. 6, 05 jan. 1948a.
TEATRO. Primeira. “Anjo negro”, apresentado por Sandro, no Fênix. Diário de Notícias, 1ª seção, 8, 04 abr. 1948b.
TITULAR da Justiça liberou a peça teatral “Anjo negro”, O. O Jornal, p. 1, 07 mar. 1948. 2ª seção.
TURNER, Doris J. The “Teatro Experimental do Negro” and its black beauty contests. Afro-Hispanic Review, v. 11, n. 1-3, p. 76-81, 1992.
URUGUAY, Alice Linhares. Artes plásticas. Cristo negro. Jornal do Brasil, p. 2, 26 jun. 1955. 5º caderno.
ZIEMBINSKI, Zbigniew. Não haverá guerra de Troia. O Jornal, p. 2 e 7, 30 mai. 1948. Revista.
