Hidrelétricas do Complexo do Madeira e Povos Indígenas de Rondônia
Resistências e desenvolvimentismo na Amazônia
DOI:
https://doi.org/10.21057/10.21057/repamv16n2.2022.49306Palavras-chave:
Complexo do Madeira, Hidrel´étricas, Rondônia, Povos IndígenasResumo
As Usinas Hidrelétricas do Complexo do Madeira compreendem dois grandes empreendimentos infraestruturais de produção energética construídos no Rio Madeira, um dos principais afluentes do Rio Amazonas, adicionaram ao sistema elétrico nacional aproximadamente 6.450 MW. Todavia, a possibilidade de uma energia limpa exaltada pelos consórcios construtores, governos e empresas gerenciadoras da produção e distribuição elétrica não se manifesta na materialidade tanto do ponto de vista ecológico quanto no sociocultural. Apesar da dimensão hídrica da legislação brasileira para medir impactos, torna-se fundamental analisar quais são os impactos decorrentes da construção de tais empreendimentos que ultrapassam a perspectiva do que foi “alagado ou não”. Nestes impactos medidos ou não encontram-se na parte mais frágil as populações negligenciadas pelo Estado brasileiro, quilombolas, pequenos produtores, extrativistas, pescadores e povos indígenas. No caso das hidrelétricas do Complexo do Madeira estamos falando sobre os povos Karipuna, Karitiana, Cassupá e isolados que possuem territórios na cidade de Porto Velho, capital de Rondônia, Amazônia brasileira. O presente trabalho tem como objetivo debater os impactos causados nos povos indígenas de Rondônia a partir da construção e operação das UHE do Complexo do Madeira, considerando as formas de organização e resistência dos povos impactados e utilizou-se da pesquisa documental como forma de organizar e coletar dados. A análise de conteúdo foi o instrumento adotado para a criação de categorias documentais, categorias de análise e a realização do processo de interpretação em si. Concluímos que as ações nas esferas local, regional e nacional que atingem de forma violenta as populações indígenas são absorvidas pelas comunidades que resistem a partir do reforço de sua auto organização, do contato com ONGs, órgãos do judiciário e da FUNAI e quando não são escutados em suas demandas superam a esfera nacional participando de contatos com organizações e Estados internacionais. Esta migração de ação que perpassa escalas demonstra, dentre outras coisas, um processo de aprimoramento da organização indígena para resistir no estado de Rondônia.
Downloads
Referências
ANDRADE, R. A. O.. Dimensões e articulações dos impactos, as relações dos poderes Público, Privado e Povos Indígenas em Rondônia. Porto Velho: Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente, UNIR (Tese de Doutorado), 2021.
APK. Carta Aberta Povo Karitiana e os efeitos negativos das barragens do Rio Madeira. Porto Velho: Associação do Povo Karitiana/Cimi, 2013.
APOIKA. Pedido de Tutela de Emergência - no Procedimento 1.31.000.001373/2019-94, Documento 1.1, Página 1. Porto Velho: Associação Indígena do Povo Karipuna Abytucu APOIKA, 2017.
ARANDA, A Povo Karipuna vive iminência de genocídio em Rondônia. Porto Velho: CIMI, 2017. Disponível em https://cimi.org.br/2017/09/povo-karipuna-vive-iminencia-de-genocidio-em-rondonia/, acessado em 10 de abril de 2023.
BAINES, S.; DA SILVA, Cristhian Teófilo. Antropólogos, Usinas Hidrelétricas e “Desenvolvimentalismo” na América Latina. Anuário antropológico, v. 2007, p. 271, 2007.
BARDIN, L. Análise de Conteúdo. 3ª Reimpressão da 1. São Paulo: Edições, v. 70, 2016.
BANKOF, G.; GEORG, F.; HILLSHORST, D. Mapping vulnerability: Disasters, development & people. London: Earthscan, 2004.
BRANDÃO, C. Território e Desenvolvimento: as múltiplas escalas entre o local e o global. São Paulo: Editora da Unicamp, 2007.
DA COSTA SILVA, Ricardo Gilson; CUNHA, Gisele Dias de Oliveira Bleggi; DE CAMPOS FERREIRA, Rebeca Ariel Aparecida. Hidrelétricas, Direitos Humanos e alienação do território na Amazônia: Estudo de caso da UHE Tabajara-Rondônia. Monções: Revista de Relações Internacionais da UFGD, v. 9, n. 18, p. 404-434, 2020.
CUNHA, E. T. da. Da tutela ao protagonismo: a trajetória Cassupá em Rondônia. Mediações - Revista de Ciências Sociais, Londrina, v. 22, n. 2, p. 223–276, 2017. DOI: 10.5433/2176-6665.2017v22n2p223. Disponível em: https://ojs.uel.br/revistas/uel/index.php/mediacoes/article/view/32259. Acesso em: 17 abr. 2023.
DA CUNHA, M. C.. Política indigenista no século XIX. In: CUNHA, M. C.. (org.). História dos índios no Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1992. p. 133-154.
ESCOBAR, A. Territorios de diferencia: la ontología política de los "derechos al territorio". Cuad. antropol. soc., Buenos Aires , n. 41, p. 25-38, jul. 2015 . Disponible en <http://www.scielo.org.ar/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1850-275X2015000100002&lng=es&nrm=iso>. accedido en 19 abr. 2023.
FEARNSIDE, P. M. Impactos das hidrelétricas na Amazônia e a tomada de decisão. Novos Cadernos NAEA, [S.l.], v. 22, n. 3, dez. 2019. ISSN 2179-7536. Disponível em: <https://periodicos.ufpa.br/index.php/ncn/article/view/7711/5813>. Acesso em: 13 nov. 2023. doi:http://dx.doi.org/10.5801/ncn.v22i3.7711.
FEARNSIDE, P. M. Impactos das barragens do Rio Madeira: Lições não aprendidas para o desenvolvimento hidrelétrico na Amazônia. 137-151. In: Hidrelétricas na Amazônia: Impactos Ambientais e Sociais na Tomada de Decisões sobre Grandes Obras. Vol. 1. Editora do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), Manaus, Amazonas, Brasil. 296 pp, 2015. http://philip.inpa.gov.br/publ_livres/2015/Livro-Hidro-V1/Cap-7%20Livro%20Hidrel%C3%A9tricas%20V.1.pdf
KANINDÉ. Relatório de levantamento da situação de proteção ambiental e social do povo indígena URU EU Wau Wau - Aldeia Alto Jamari. Porto Velho: Kanindé, 2011
MACIEL, Márcia Nunes. A construção de uma identidade: história oral com os Cassupá. Porto Velho: Monografia (História, UNIR). 2003.
MORET, A. et al. Expandindo a concepção de atingidos por UHE: Assentamentos Vila Jirau e Vila da Penha - Rondônia. Revista Ambiente & Sociedade, São Paulo, Vol. 24, 2021.
MPF. Ação Civil Pública - 2007.41.00.001160-0 Contra o processo de licenciamento ambiental para a construção e operação das usinas hidrelétricas na bacia do Rio Madeira. Rondônia: MPF, 2007.
MPF-RO. Parecer Técnico nº 2355/2019-SOPA/CNP/ANPA. Porto Velho: MPF, 2019.
SAE. Cassupá e Salamãi: Programa de Proteção aos povos indígenas Cassupá e Salamãi, na área de influência da UHE Santo Antônio, Porto Velho, Rondônia. Porto Velho: SAE, 2012.
STF. Crime de Genocídio - definições, conceitos, análises. Brasília: STF, 2023. Disponível em https://www.stf.jus.br/arquivo/cms/sobreStfCooperacaoInternacional/anexo/Respostas_Venice_Forum/3Port.pdf, Acessado em 11 de abril de 2023.
STIBICH I. Esforços para a implantação de uma “nova política indigenista” pelas gestões petistas (2003-2016): etnografia de um processo a partir da Fundação Nacional do Índio (Funai). 2019. Tese (Doutorado em Antropologia Social) - Universidade de Brasília, Brasília, 2019. Disponível em: https://repositorio.unb.br/handle/10482/38533. Acesso em: 18 mar. 2022.
VAINER, Carlos. População, meio ambiente e conflito social na construção de hidrelétricas. In: MARTINE, George (org.). População, meio ambiente e desenvolvimento: verdades e contradições. 2. ed. Campinas: Unicamp, 1996. p. 183-207
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2024 Estevão Rafael Fernandes, Rafael Ademir Oliveira de Andrade
Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution-NonCommercial 4.0 International License.
a. Autores mantém os direitos autorais e concedem à revista o direito de primeira publicação, com o trabalho simultaneamente licenciado sob a Licença Creative Commons Attribution que permite o compartilhamento do trabalho com reconhecimento da autoria e publicação inicial nesta revista.
b. Autores têm autorização para assumir contratos adicionais separadamente, para distribuição não-exclusiva da versão do trabalho publicada nesta revista (ex.: publicar em repositório institucional ou como capítulo de livro), com reconhecimento de autoria e publicação inicial nesta revista.
c. Autores têm permissão e são estimulados a publicar e distribuir seu trabalho online (ex.: em repositórios institucionais ou na sua página pessoal) visando aumentar o impacto e a citação do trabalho publicado (Veja O Efeito do Acesso Livre).
d. Ao ter seu trabalho aprovado e publicado, o autor compromete-se a colaborar com os processos de avaliação de outros trabalhos, em conformidade com sua disponibilidade e área de atuação.