CONFREM: a construção de repertório de interação e de encaixes institucionais dos povos tradicionais extrativistas costeiros e marinhos do litoral brasileiro

Autores

  • Paulo Victor Sousa Lima Cientista Social e Mestre em Sociologia e Antropologia pela Universidade Federal do Pará (UFPA). Atualmente é estudante do curso de Doctorado de Ciencias Sociales en Estudios Territoriales da Universidad de Los Lagos (ULAGOS). É integrante do Projeto FONDECYT Regular Nª 1220430 “La Resurgencia de los Comunes en el Antropoceno Azul en Chile”, do Grupo de investigação Antropologia de la Conservacion e do Grupo de Estudos Marés do Litoral da Amazônia Paraense (GEMAR).
  • Francisco Javier Araos Leiva acadêmico e investigador do Centro de Estudios del Desarrollo Regional y Políticas Públicas (CEDER) da Universidad de Los Lagos (ULAGOS)

DOI:

https://doi.org/10.21057/10.21057/repamv16n2.2022.49253

Palavras-chave:

CONFREM. Povos Tradicionais Extrativistas Costeiros e Marinhos. Maretório. Encaixes institucionais. Repertório de interação.

Resumo

O artigo tem como objetivo apresentar uma reflexão sobre o processo de criação da Comissão Nacional de Fortalecimento das Reservas Extrativistas e dos Povos e Comunidades Extrativistas Costeiros e Marinhos (CONFREM), uma organização da sociedade civil que representa os interesses dos povos e comunidades tradicionais extrativistas costeiros e marinhos do litoral brasileiro. Trata-se de uma pesquisa de caráter qualitativo-exploratório, que se baseia em entrevistas com lideranças da CONFREM de diferentes estados e análise de fontes documentais. O argumento central do artigo é que a CONFREM é uma estratégia institucional levada a cabo por lideranças de movimentos e organizações sociais dos povos e comunidades tradicionais extrativistas costeiros e marinhos, que reconheceram a necessidade de criar uma entidade para representar seus interesses e estabelecer diálogo com o Estado e outros setores e da sociedade civil. A criação da CONFREM é vista como um marco importante para o fortalecimento da luta desses grupos. Ao longo do processo de institucionalização, observamos o uso de repertório de interação e a construção de encaixes institucionais, inclusive do tipo simbólico através da categoria “povos tradicionais extrativistas costeiros e marinhos” e do conceito de “maretório”.

 

Agradecimentos:

Gostaríamos de expressar nossos sinceros agradecimentos às lideranças da CONFREM, em especial Maria Aparecida Ferreira (Cida), José Alberto de Lima Ribeiro (Beto Pescador), Francisco Guimarães Neto (Chico Pescador), Carlos Alberto Pinto dos Santos (Carlinhos), Sandra Regina Pereira Gonçalves, Célia Regina das Neves Favacho, Marly Lúcia da Silva Sousa e Patrícia Farias Ribeiro, que gentilmente cederam parte do seu tempo para conceder entrevistas e compartilhar suas histórias e conhecimentos. Seu apoio e colaboração foram de suma importância para o desenvolvimento deste trabalho. Agradecemos também ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) pela concessão da bolsa de mestrado a um dos autores deste artigo, e ao Projeto ANID/FONDECYT N. 1220430 “La resurgencia de los comunes en el Antropoceno Azul en Chile" pelo financiamento de parte desta pesquisa.

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Biografia do Autor

Francisco Javier Araos Leiva, acadêmico e investigador do Centro de Estudios del Desarrollo Regional y Políticas Públicas (CEDER) da Universidad de Los Lagos (ULAGOS)

Francisco Javier Araos Leiva. Francisco Araos é Antropólogo Social pela Universidad de Chile e Doutor em Ambiente e Sociedade pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Atualmente é acadêmico e investigador do Centro de Estudios del Desarrollo Regional y Políticas Públicas (CEDER) da Universidad de Los Lagos (ULAGOS). É investigador responsável do Projeto FONDECYT Regular Nª 1220430 “La Resurgencia de los Comunes en el Antropoceno Azul en Chile” e do Grupo de investigação Antropologia de la Conservacion. E-mail: francisco.araos@ulagos.cl

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Publicado

2024-09-04

Como Citar

Sousa Lima, P. V., & Javier Araos Leiva, F. (2024). CONFREM: a construção de repertório de interação e de encaixes institucionais dos povos tradicionais extrativistas costeiros e marinhos do litoral brasileiro . Revista De Estudos E Pesquisas Sobre As Américas, 16(2), 259–293. https://doi.org/10.21057/10.21057/repamv16n2.2022.49253

Edição

Seção

Dossiê - Resistências ecoterritoriais de povos indígenas ao neoextrativismo contemporâneo