VERDADE E REPRESENTAÇÃO NA PERSPECTIVA INVERSA
DOI:
https://doi.org/10.18830//issn2238-362X.v8.n1.2018.02Palavras-chave:
Perspectiva inversa, Ãcones russos, Estranhamento, Arte e representaçãoResumo
Os sistemas de classificações da história da arte e da arquitetura trazem a periodização como categoria fundamental no julgamento e classificações das obras, apesar das evidências de que os artistas violavam as regras vigentes para, em nome da diferenciação e da elevação artísticas, superarem os modelos. Essa visão não só privilegia as técnicas renascentistas de representação comoautênticas, como também as sacraliza, dificultando a sua leitura simbólica. O que é considerado como autêntico adquire uma função modelar, sendo menos questionado do que deveria. Por outro lado, a automatização da análise simbólica sobre as pinturas medievais, na lógica do dicionário ilustrado, dificulta a desconstrução da estrutura ideológica. As obras são classificadas mais pelas suas semelhanças, o que lhes confere um valor de gênero, e menos pelas suas particularidades. Contrapondo a visão dominante de que a arte simbólica medieval é inferior à pintura realista renascentista, Pável Floriênski propõe o conceito da perspectiva inversa, ou iconográfica, desenvolvido em 1919 a partir do estudo das pinturas dos ícones russosd a idade média. Essa contraposição parece resolvida pela argumentação do autor russo, mas, ao negar um sistema canônico, impõe outro, mais antigo e dominante que o primeiro. Propõe-se aqui o estranhamento da validade da perspectiva inversa como recurso de inversão, sugerindo o inverso da inversão que a perspectiva inversa propõe. Se a inversa mostra a hierarquia simbólica entre os ícones e cenário, esta é mais autêntica, pois esconde menos a ordem semântica de poder. A partir do reconhecimento dos recursos artísticos é possível se fazer uma leitura laica do que é considerado sagrado em cada período. Para tanto, propõe-se o conceito de “estranhamento”, desenvolvido por Chklóvsky entre os formalistas russos no início do século XX, e o recurso da leitura alegórica como procedimentos de desautomatização do olhar habitual de um objeto deslocando-o da sua identidade inicial.