A influência da prefixação com pré- e pós- no comportamento gramatical dos produtos prefixados
Palavras-chave:
linguística de corpus, prefixação na língua portuguesa, prefixos pré- e pós-Resumo
Este trabalho tem como objetivo verificar se os pressupostos comumente adotados para a caracterização da prefixação em língua portuguesa (AZEREDO, 2000; BECHARA, 2019; VILLALVA, 2003) são suficientes para explicar o comportamento morfossintático observado no uso corrente dos prefixos espaço-temporais pré- e pós-. Segundo Villalva (2003), a prefixação, inserida na modificação morfológica, não abarca casos em que há mudança de propriedades gramaticais profundas da base, como os que envolvem alteração da categoria gramatical — algumas exceções, no entanto, são admitidas, a exemplo de acaule e antirrugas. Apesar disso, outros estudos (GANANÇA, 2017; NUNES, 2006; RIO-TORTO, 2019) apontam ainda mais casos similares, incluindo a ocorrência de produtos prefixados com pré- e pós-. De modo a estudar as propriedades morfossintáticas e morfossemânticas desses prefixos, realizamos, a partir de consultas ao Corpus do Português (DAVIES, 2016), uma análise sincrônica direcionada às suas formas tônicas, uma vez que estas são produtivas e apresentam-se como transparentes para os falantes (RIO-TORTO, 2019; SCHWINDT, 2005). Entre os resultados obtidos, destacamos que existem, na língua portuguesa contemporânea, produtos prefixados com pré- e pós- que apresentam um comportamento divergente daquele previsto para os resultados de prefixações, desafiando a não influência dessas unidades no comportamento morfossintático das bases.
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