Hegemonia na era da pós-verdade: extremismo de direita e ilusão de desintermediação
DOI:
https://doi.org/10.26512/ser_social.v27i56.55611Palavras-chave:
Hegemonia, Pós-verdade, Extrema direita, Ilusão de desintermediaçãoResumo
Este trabalho tem a finalidade de analisar as condições de exercício da hegemonia na nova atmosfera cognitiva que se convencionou denominar pós-verdade. Revisitamos elaborações de Antonio Gramsci e Raymond Williams, definindo a hegemonia como um sistema de significações experimentado no cotidiano, o qual conforma um “senso de realidade” para as pessoas. Em seguida, apresentamos a paisagem de pós-verdade, ressaltando um traço definidor: a crise das modernas mediações epistêmicas e sua substituição por mediações mercadológicas de tipo algorítmico, orientadas pela gramática neoliberal. Finalmente, mostramos como a extrema direita vivencia, de forma militante, o mundo da pós-verdade, focando um fundamento do discurso reacionário que definimos como ilusão de desintermediação, forma fetichizada de conceber as interações digitais como capazes de propiciar uma experiência de “liberdade” e “autonomia” pautada em suposto “acesso direto” à realidade. O artigo tem o objetivo de evidenciar como, a partir de infraestruturas econômicas e sociotécnicas determinadas, as coordenadas da ordem se tornam disposições da mente, configurando formas sutis e penetrantes de exercício da hegemonia.
Downloads
Referências
ART of the Lie: Post-Truth politics. The Economist [online]. 10 set. 2016. Disponível em: <https://www.economist.com/leaders/2016/09/10/art-of-the-lie>. Acesso em: 23 set. 2024.
BASTOS, M. A crise imanente da comunicação como forma social e os limites da concepção de “esfera semipública”: Notas dialéticas sobre Habermas e a “nova reestruturação da esfera pública”. Revista Eletrônica Internacional de Economia Política da Informação da Comunicação e da Cultura, São Cristovão, v. 26, n. 2, p. 9—29, 2024.
CAPOVILLA, C.; PALÁCIO, F. Visões da pandemia: As teses de Giorgio Agamben como idealizações do Ocidente. Princípios, v. 40, n. 160, p. 24 - 59, 15 jan. 2021.
CESARINO, L. Pós-Verdade e a Crise do Sistema de Peritos: uma explicação cibernética. Ilha — Revista de Antropologia, Florianópolis, v. 23, n.1, p. 73-96, 2021.
DEBORD, G. A sociedade do espetáculo. Rio de Janeiro: Contraponto, 2017.
EAGLETON, T. Depois da teoria: um olhar sobre os estudos culturais e o pós-modernismo. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2005b.
______. Ideologia. São Paulo: Editora Unesp; Boitempo, 1997.
GENRO FILHO, A. O segredo da pirâmide: para uma teoria marxista do jornalismo. Porto Alegre: Tchê!, 1987.
GRAMSCI, A. Quaderni del Carcere. Volume terzo — Quaderni 12-29. Edizione critica dell’Istituto Gramsci — A cura di Valentino Gerratana. 2ª edizione. Torino: Giulio Einaudi editore, 1977. pp. 1507-2362.
GRUPPI, L. O conceito de hegemonia em Gramsci. 4. ed. Rio de Janeiro: Graal, 1991.
HABERMAS, J. Mudança estrutural da esfera pública: investigações sobre uma categoria da sociedade burguesa. São Paulo: Editora Unesp, 2014.
LAGE, N. Ideologia e técnica da notícia. Petrópolis: Vozes, 1979.
MAIA, L. R.; MASSARANI, L.; SANTOS JÚNIOR, M. A. dos; OLIVEIRA, T. Comunidades de pertencimento, desinformação e antagonismo: processos interacionais em grupos antivacina no Telegram no Brasil. Galáxia (São Paulo, online), v. 49, 2024, p. 1-24.
MARX, Karl. O Capital: crítica da Economia Política. Livro primeiro: O processo de
produção do capital. v. I e II. São Paulo: Difel, 1985.
MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. A ideologia alemã (Feuerbach). In:______. Obras escolhidas. Lisboa: Avante!; Moscou: Progresso, 1982. v. 1, p. 4-75.
______. O manifesto comunista. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1996.
MATALLO JR., H. A problemática do conhecimento. In: CARVALHO, M. C. M. de (Org.). Construindo o saber: metodologia científica — fundamentos e técnicas. Campinas: Papirus, 1994. p. 13-28.
O’NEIL, C. Algoritmos de destruição em massa: como o big data aumenta a desigualdade e ameaça a democracia. Santo André, SP: Editora Rua do Sabão, 2020.
PALÁCIO, F. Sob o céu de junho: as manifestações de 2013 à luz do materialismo cultural. São Paulo: Autonomia Literária, 2023.
PALÁCIO, F.; CAPOVILLA, C. Posverdad: etapa suprema de la postmodernidad. In: MANCINAS-CHÁVEZ, R.; CÁRDENAS-RICA, M. L. Medios y comunicación en tiempos de posverdad. Madrid: Editorial Fragua, 2021. p. 183-203.
PENA, Felipe. Teoria do Jornalismo. São Paulo: Editora Contexto, 2005.
TRAQUINA, Nelson. Teorias do Jornalismo. V. I: por que as notícias são como são. 3. ed. Florianópolis: Insular Livros, 2012.
ROCKHILL, G.; DINGQI, Z. A propaganda imperialista e a ideologia da intelligentsia da esquerda ocidental: Do anticomunismo e a política identitária às ilusões democráticas e o fascismo. Princípios, v. 43, n. 169, p. 124- 152, 25 jun. 2024.
SANTOS, N. Social media logics: visibility and mediation in the 2013 Brazilian protests. London: Palgrave Macmillan, 2022.
SINDERBRAND, R. How Kellyanne Conway ushered in the era of ‘alternative facts’. The Washington Post, Washington, DC, January 22, 2017. Disponível em: <https://www.washingtonpost.com/news/the-fix/wp/2017/01/22/how-kellyanne-conway-ushered-in-the-era-of-alternative-facts/>. Acesso em: 20 set. 2024.
STANLEY, J. Como funciona o fascismo. Porto Alegre: L&PM, 2018.
WILLIAMS, R. Communications. London: Penguin Books, 1968.
______. Cultura. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2000.
______. Cultura e materialismo. São Paulo: Editora da Unesp, 2011.
______. Marxism and literature. Oxford: Oxford University Press, 1977.
______. Television: technology and cultural form. New York: Routledge, 1990.
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2024 SER Social
Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution-NonCommercial-NoDerivatives 4.0 International License.
Todo o conteúdo deste periódico, exceto onde está identificado, está licenciado sob uma https://creativecommons.
Copyright: Os autores serão responsáveis por obter o copyright do material incluído no artigo, quando necessário.
Excepcionalmente serão aceitos trabalhos já publicados (seja em versão impressa, seja virtual), desde que devidamente acompanhados da autorização escrita e assinada pelo autor e pelo Editor Chefe do veículo no qual o trabalho tenha sido originalmente publicado.