Latifúndio eólico: energia renovável, green grabbing e modernização conservadora no Nordeste do Brasil

Autores

  • Francisco Raphael Cruz Mauricio Grupo de Estudos Desenvolvimento, Modernidade e Meio Ambiente

DOI:

https://doi.org/10.26512/ser_social.v25i52.45189

Palavras-chave:

Energia eólica., Expropriação., Questão Agrária., Modernização Conservadora.

Resumo

A produção de energia eólica no Nordeste do Brasil é entendida pelo Estado e pelas empresas de energia como diversificadora da matriz elétrica nacional e mitigadora das mudanças climáticas globais, contribuindo para o desenvolvimento sustentável. Contudo, a instalação de parques eólicos na região tem gerado conflitos com camponesas, povos e comunidades tradicionais. Neste artigo, é investigada a relação entre a geração de energia eólica e a população rural historicamente subalternizada do Nordeste. A pesquisa bibliográfica permitiu identificar que a territorialização da energia eólica na região ocorreu mediante a expropriação dessa população, configurando um regime regional de desapropriação de terras e recursos naturais. Constata-se que a eolização do Nordeste assenta-se na concentração fundiária, recriando, agora, com justificativas ecológicas, a grande propriedade. Conclui-se que a invenção do Nordeste eólico foi também a reinvenção da modernização conservadora, convocando-nos a pensar nas intersecções entre as questões energética, climática e agrária no Brasil contemporâneo.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Referências

ABEEÓLICA – ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ENERGIA EÓLICA E NOVAS TECNOLOGIAS. Boletim Anual 2021. Disponível em: <https://abeeolica.org.br/energia- eolica/dados-abeeolica/>. Acesso em: 20 set. 2022.

ANDRADE, M. C de. A terra e o homem no Nordeste. São Paulo: Cortez, 2005.

BNB – BANCO DO NORDESTE DO BRASIL (2010). Nordeste em mapas. Disponível em: <https://www.bnb.gov.br/documents/88765/89729/nordeste-mapas.pdf/9e8eaaa7-1dbf-43b7-8ed6-58046400df34?version=1.0>. Acesso em: 19 set. 2021.

DAVIS, M. Holocaustos coloniais: A criação do terceiro mundo. São Paulo: Veneta, 2022.

DINIZ, Tiago. “Expansão da indústria de geração eólica no Brasil: Uma análise à luz da Nova Economia das Instituições”. Planejamento e Políticas Públicas, v. 1, nº 50, p. 233-255, jan./jun. 2018.

DUTRA, Ricardo. Propostas de políticas específicas para energia eólica no Brasil após a primeira fase do PROINFA. 2007. 415 f. Tese (Doutorado em Planejamento Energético) – Programa de Pós-Graduação em Planejamento Energético, Universidade Federal do Rio Janeiro, Rio Janeiro, 2007.

DUTRA, Ricardo; SZKLO, Alexandre. “A energia eólica no Brasil: PROINFA e o novo modelo do setor elétrico”. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE ENERGIA, 11, 2006, Rio de Janeiro. Anais... Volume II. Rio de Janeiro: s/e, 2006, p. 842-868.

EWING, Jeffrey. “Hollow ecology: ecological modernization theory and the death of nature”. Journal of World-Systems Research, v. 23, nº 1, p. 126-155, fev. 2017.

FAIRHEAD, James; LEACH, Melissa; SCOONES, Ian. “Green grabbing: A new appropriation of nature?”. Journal of Peasant Studies, v. 39, nº 2, p. 237-261, abr. 2012.

FONTES, V. O Brasil e o capital imperialismo: Teoria e história. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 2010.

GANNOUM, E. Palavra da presidente. In: ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ENERGIA EÓLICA E NOVAS TECNOLOGIAS. Boletim Anual 2021. Disponível em: <https://abeeolica.org.br/energia-eolica/dados-abeeolica/>. Acesso em: 20 set. 2022.

IBGE – INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Atlas do espaço rural brasileiro. Rio de Janeiro: IBGE, 2020.

IBGE – INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios. Rio de Janeiro: IBGE, 2015.

IBGE – INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. 2015. Conheça o Brasil: População. População rural e urbana. IBGE Educa On-Line. Disponível em: <https://educa.ibge.gov.br/jovens/conheca-obrasil/populacao/18313-populacao-rural-e-urbana.html>. Acesso em: 22 set. 2021.

IBGE – INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Base de Informações Geográficas e Estatísticas sobre os Indígenas e os Quilombolas para Enfrentamento à Covid-19. Rio de Janeiro: Ministério da Economia, 2020.

IMAFLORA – INSTITUTO DE MANEJO E CERTIFICAÇÃO FLORESTAL E AGRÍCOLA. 2017. Atlas da Agropecuária Brasileira 2017. Disponível em: . Acesso em: 6 jan. 2022.

LANDAU, C. Concentração geográfica da agricultura familiar no Brasil. Sete Lagoas: EMBRAPA Milho e Sorgo, 2013.

LEVIEN, Michael. “Da acumulação primitiva aos regimes de desapropriação”. Revista Sociologia & Antropologia, v. 4, nº 1, p. 21-53, jan-jun. 2014.

LIMA, José. A natureza contraditória da territorialização da produção de energia eólica no Nordeste do Brasil. 2019. 430 f. Tese (Doutorado em Geografia) – Programa de Pós-Graduação em Geografia, Universidade Federal Fluminense, Rio de Janeiro, 2019.

LUCENA, Juliana; LUCENA, Klayton. “Wind energy in Brazil: An overview and perspectives under the triple bottom line”. Clean Energy, v. 3, nº 2, p. 69-84, jun. 2019.

MAGALHÃES, João et al. “Análise estratégica do setor de energia eólica no Brasil”. Revista Eletrônica de Estratégia & Negócios, v. 12, nº 1, p. 3-25, jan/abr. 2019.

MARX, K. O Capital: Crítica da Economia Política. Livro 1: O processo de produção do capital. São Paulo: Boitempo, 2013.

MEDEIROS, L. Latifúndio. In: SALETE, R. et al. (Orgs.). Dicionário de educação do campo. Rio de Janeiro; São Paulo: Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio; Expressão Popular, 2012, p. 447-453.

MINERAL ENGENHARIA E MEIO AMBIENTE; OMEGA ENERGIA. Estudo de impacto ambiental – EIA Complexo Eólico Delta 10, Volume I, 2019.

MIRANDA, Roberto de Sousa. “Ecologia política e processos de territorialização”. Revista Sociedade e Estado, v. 28, nº 1, p. 142-161, jan/abr. 2013.

MOORE JUNIOR, B. As origens sociais da ditadura e da democracia: Senhores e camponeses na construção do mundo moderno. São Paulo: Martins Fontes, 1975.

OLIVEIRA, F. de. A noiva da revolução/Elegia para uma re(li)gião. São Paulo: Boitempo, 2008.

PEREIRA, L. “O Nordeste brasileiro como fronteira do neoextrativismo”. In: ENCONTRO NACIONAL DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA EM GEOGRAFIA, 14, 2021, Virtual, Anais... Disponível em: <https://editorarealize.com.br/artigo/visualizar/78729>. Acesso em: 20 ago. 2022.

PIRES, Murilo; RAMOS, Pedro. “O termo modernização conservadora: sua origem e utilização no Brasil”. Revista Econômica do Nordeste, v. 40, nº 3, p. 411-424, jul/set. 2009.

PORTO, Marcelo; FINAMORE, Renan; FERREIRA, Hugo. “Injustiças da sustentabilidade: conflitos ambientais relacionados à produção de energia ‘limpa’ no Brasil”. Revista Crítica de Ciências Sociais, nº 100, p. 37-64, maio 2013.

ROCKMANN, Roberto; MATTOS, Lúcio. Curto-circuito: quando o Brasil quase ficou às escuras (2001-2002), s/e: s/c, 2021.

SCHEIDEL, Arnim; SORMAN, Alevgul. “Energy transitions and the global land rush: ultimate drivers and persistent consequences”. Global Environmental Change, v. 22, nº 3, p. 588-595, ago. 2012.

SILVA, A. P. Pesca artesanal brasileira. Aspectos conceituais, históricos, institucionais, prospectivos. Palmas: EMBRAPA Pesca e Aquicultura, 2014.

SILVA, Rafael; AZEVEDO, Francisco. “O desenvolvimento do setor eólico no Brasil e no mundo”. Formação, v. 28, nº 53, p. 809-828, set. 2021.

SOVACOOL, Benjamin. “Who are the victims of low-carbon transitions? Towards a political ecology of climate change mitigation”. Energy Research & Social Science, v. 73, nº 1, p. 1-16, mar. 2021.

STOCK, Ryan; BIRKENHOLTZ, Trevor. “The sun and the scythe: energy dispossessions and the agrarian question of labor in solar parks”. The Journal of Peasant Studies, v. 48, nº 5, p. 984-1007, dez. 2021.

TRALDI, M. Acumulação por despossessão: A privatização dos ventos para a produção de energia eólica no semiárido brasileiro. Campinas, 2019. 378f. Tese (Doutorado em Geografia) – Instituto de Geociências, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2019.

TRALDI, Mariana. “Os impactos socioeconômicos e territoriais resultantes da implantação e operação de parques eólicos no semiárido brasileiro”. Scripta Nova, v. 22, nº 589, maio 2018.

WHITE, Ben et al. “The new enclosures: critical perspectives on corporate land deals”. The Journal of Peasant Studies, v. 39, nº 3-4, p. 619-647, jul./out. 2012.

ZUKERFELD, M. Knowledge in the age of digital capitalism: An introduction to cognitive materialism. Londres: University of Westminster Press, 2017.

Downloads

Publicado

01/31/2023

Como Citar

CRUZ MAURICIO, Francisco Raphael. Latifúndio eólico: energia renovável, green grabbing e modernização conservadora no Nordeste do Brasil. SER Social, [S. l.], v. 25, n. 52, 2023. DOI: 10.26512/ser_social.v25i52.45189. Disponível em: https://periodicos.unb.br/index.php/SER_Social/article/view/45189. Acesso em: 16 abr. 2024.

Edição

Seção

Artigos Temáticos