Latifúndio eólico: energia renovável, green grabbing e modernização conservadora no Nordeste do Brasil

Autores

  • Francisco Raphael Cruz Mauricio Grupo de Estudos Desenvolvimento, Modernidade e Meio Ambiente

DOI:

https://doi.org/10.26512/ser_social.v25i52.45189

Palavras-chave:

Energia eólica., Expropriação., Questão Agrária., Modernização Conservadora.

Resumo

A produção de energia eólica no Nordeste do Brasil é entendida pelo Estado e pelas empresas de energia como diversificadora da matriz elétrica nacional e mitigadora das mudanças climáticas globais, contribuindo para o desenvolvimento sustentável. Contudo, a instalação de parques eólicos na região tem gerado conflitos com camponesas, povos e comunidades tradicionais. Neste artigo, é investigada a relação entre a geração de energia eólica e a população rural historicamente subalternizada do Nordeste. A pesquisa bibliográfica permitiu identificar que a territorialização da energia eólica na região ocorreu mediante a expropriação dessa população, configurando um regime regional de desapropriação de terras e recursos naturais. Constata-se que a eolização do Nordeste assenta-se na concentração fundiária, recriando, agora, com justificativas ecológicas, a grande propriedade. Conclui-se que a invenção do Nordeste eólico foi também a reinvenção da modernização conservadora, convocando-nos a pensar nas intersecções entre as questões energética, climática e agrária no Brasil contemporâneo.

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Publicado

31-01-2023

Como Citar

CRUZ MAURICIO, Francisco Raphael. Latifúndio eólico: energia renovável, green grabbing e modernização conservadora no Nordeste do Brasil. SER Social, Brasília, v. 25, n. 52, 2023. DOI: 10.26512/ser_social.v25i52.45189. Disponível em: https://periodicos.unb.br/index.php/SER_Social/article/view/45189. Acesso em: 24 nov. 2024.

Edição

Seção

Artigos Temáticos