O desenvolvimento rural sob regime de verdade:
o discurso do Banco Mundial
DOI:
https://doi.org/10.1590/s0102-699220183301001Palabras clave:
desenvolvimento rural, novas ruralidades, ruralidades e teoria social, Banco MundialResumen
O objetivo deste trabalho é interpretar sociologicamente os discursos do Banco Mundial no campo das lutas cognitivas pela construção do saber e das prescrições legítimas para o desenvolvimento rural. Tais discursos foram buscados em cinco relatórios do banco dedicados ao tema entre 1995 e 2015, os quais evidenciam um deslocamento do lugar da agricultura para o rural. No período em análise, os documentos iniciais visam construir uma visão alargada dos espaços rurais, numa abordagem territorializada que estimula a diversificação econômica e a participação coletiva. Num segundo momento, a ênfase desloca-se em direção ao fortalecimento da agricultura e à necessidade de elevação da produtividade agrícola para garantia da segurança alimentar da população mundial; essa posição é reforçada num terceiro momento, quando o banco associa a agricultura à s mudanças climáticas. O estudo destaca que as prescrições sobre o desenvolvimento rural empreendidas pela instituição estão calcadas nos recursos universais de cálculo e previsibilidade próprios da ciência moderna. Disso decorre a avaliação e a modelagem das trocas materiais e simbólicas tomadas como legítimas nos territórios rurais ”“ ações que incorrem sobre as práticas da população rural e demandam a docilização dos corpos para novos controles institucionais e de mercado na relação com o meio ambiente. A eficácia da reforma do discurso do banco sobre desenvolvimento rural em países emergentes também se articula com a fluidez dos espaços de dominação e exercício do poder em escala global.
Descargas
Citas
ACSELRAD, Henri; MELLO, Cecília Campello; BEZERRA, Gustavo das Neves. O que é justiça ambiental. Rio de Janeiro: Garamond, 2009.
BECK, Ulrich. Sociedade de risco: rumo a uma outra modernidade. São Paulo: Editora 34, 2010.
BRUNDTLAND, Gro Harlem (Dir.). Our common future. Report of the World Commission on Environment and Development. Oxford: Oxford University Press, 1987.
CARNEIRO, M. J. “Rural” como categoria de pensamento. Ruris, v. 2, n.1, Mar. 2008.
CASTELLS, Manuel. A sociedade em rede. “A era da informação: economia, sociedade e cultura”, v. 1. São Paulo: Paz e Terra, 1996.
CASTRO, L. C. de. O desenvolvimento guiado por um elemento estrangeiro: as relações entre o Banco Mundial e os países subdesenvolvidos. Dissertação (Mestrado) - Programa de Pós-Graduação em Ciência Política, Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Campinas, 2004.
FAVARETO, Arilson da Silva. Paradigmas do desenvolvimento rural em questão. v. 1. São Paulo: Fapesp; Iglu, 2007.
FOUCAULT, Michel. Microfísica do poder. 25. ed. São Paulo: Graal, 2012.
____. A ordem do discurso. 18. ed. São Paulo: Loyola, 2009.
____. Surveiller et punir: naissance de la prision. Paris: Gallimard, 1975.
GAMEIRO, Mariana Bombo Perozzi. Desenvolvimento, perícia e poder no rural paulista: o caso do Programa Estadual de Microbacias Hidrográficas. Dissertação (Mestrado) - Programa de Pós-Graduação em Sociologia, Centro de Educação e Ciências Humanas, Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), São Carlos, 2013.
GIDDENS, Anthony. Modernidade e identidade. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2002.
____. As consequências da modernidade. São Paulo: Editora Unesp, 1991.
GONZALES, Manuel Jose Forero et al ii. O Brasil e o Banco Mundial: um diagnóstico das relações econômicas. Brasília: Ipea, 1990.
HONE, Angus. World Bank operations: sectoral programs and policies. Baltimore; London: Johns Hopkins University Press, 1972.
LOWE, Philip et al ii. Participation in rural development. Luxembourg: European Foundation for the Improvement of Living and Working Conditions, 1999.
MARSDEN, Terry; MURDOCH, Jonathan. The shifting nature of rural governance and community participation. Journal of Rural Studies, v. 14, n. 1, p. 1-4, 1998.
MARTINS, Rodrigo Constante. Fronteiras entre desigualdade e diferença na governança das águas. Ambiente e sociedade, (no prelo).
MARTINS, Rodrigo Constante. A construção social da economia política da água. Sociologia. n. 73, p. 111-130, Lisboa, 2013.
MORMONT, Marc. Le rural comme catégorie de lecture du social. In: JOLLIVET, Marcel; EINER, N. (Orgs.). L’Europe et ses campagnes. Paris: Press des Sciences Politiques, 1996.
PEREIRA, João Márcio Mendes. O Banco Mundial como ator político, intelectual e financeiro (1944-2008). Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2010.
PLOEG, J. D. van Der et al ii. Rural development: from practices and policies towards theory. Sociologia Ruralis, v. 40, n. 4, p. 391-407, Netherlands, 2000.
ROSSET, Peter. O bom, o mau e o feio: a política fundiária do Banco Mundial. In: MARTINS, Mônica Dias (Org.). O Banco Mundial e a terra: ofensiva e resistência na América Latina, p. 16-24. São Paulo: Viramundo, 2004.
SHAW, D. John. The world’s largest humanitarian agency: the transformation of the UN World Food Programme and of Food Aid. London: Palgrave Macmillan, 2011.
SCHNEIDER, Sérgio. A abordagem territorial do desenvolvimento rural e suas articulações externas. Sociologias, n. 11, p. 88-125, Porto Alegre, 2004.
VEIGA, José Eli et al ii. A face rural do desenvolvimento: natureza, território e agricultura. Porto Alegre: Editora UFRGS, 2000.
WANDERLEY, Maria de Nazareth Baudel. A emergência de uma nova ruralidade nas sociedades modernas avançadas: o “rural” como espaço singular e ator coletivo. Estudos, Sociedade e Agricultura, n. 15, p. 87-145, Rio de Janeiro, Out. 2000.
WORLD BANK. Documents and reports. Disponível em: <Disponível em: http://documents.worldbank.org/curated/en/topic >. Acesso em: 29 Abr. 2015.
____. What we do. Disponível em: <Disponível em: http://www.worldbank.org/en/about/what-we-do >. Acesso em: 04 Out. 2014.
____. Implementing agriculture for development: World Bank Group Agriculture Action Plan: FY2013-2015. Washington: The World Bank Group, 2013.
____ (MANSURI, G., RAO, V.) . Localizing development: does participation work? Washington: The International Bank for Reconstruction and Development/The World Bank, 2013b.
____. World development report 2010: development and climate change. Washington: The International Bank for Reconstruction and Development; The World Bank, 2010.
____ Implementing agriculture for development: World Bank Group Agriculture Action Plan: FY2010-2012. Washington: The International Bank for Reconstruction and Development; The World Bank , 2009.
____. World Development Report 2008: agriculture for development. Washington: The International Bank for Reconstruction and Development; The World Bank , 2007.
____. Reaching the rural poor: a renewed strategy for rural development. Washington: The International Bank for Reconstruction and Development; The World Bank , 2003.
____. Rural development: from vision to action? (Phase II). Washington: The World Bank Group, 2000.
____. Rural development: from vision to action - A sector strategy paper. Washington: The World Bank Group , 1997.