Uma rua na favela e uma janela na cela: precariedades, doenças e mortes dentro e fora dos muros

Autores

DOI:

https://doi.org/10.1590/s0102-6992-202136010004

Palavras-chave:

Prisões, Periferias, Pandemia, Precariedades, Mortes.

Resumo

No texto que segue, tendo como ponto de partida os debates em torno das relações de continuidade entre o dentro e o fora das prisões, busca-se refletir sobre os nexos que articulam prisões, favelas e periferias, todavia, de um ângulo singular. Em tempos de Covid-19, observa-se como esses nexos podem ser pensados a partir das infraestruturas e materialidades de tais espaços. Densidade populacional, lugares pouco ventilados e mal iluminados, racionamento de água ou enchentes, acúmulo de lixo e esgoto a céu aberto são alguns dos traços que ”“ do prisma das precariedades estruturais ”“ conectam presídios e zonas periféricas. A partir de pesquisas etnográficas pregressas, análise de documentos e realização de entrevistas, evidencia-se como essas precariedades são decisivas no que se refere à prevalência de determinadas enfermidades entre populações negras, pobres e periféricas, o que aponta para a distribuição diferencial do adoecimento e da morte.

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Biografia do Autor

Fábio Mallart, Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ)

mestre em Antropologia Social e doutor em Sociologia pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, é pesquisador de pós-doutorado pelo Instituto de Medicina Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (bolsista PNPD/CAPES)

Fábio Araújo, Instituto Federal do Rio de Janeiro

Professor do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, RJ, Brasil. Doutorado em Sociologia (Universidade Federal do Rio de Janeiro).

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Publicado

26-05-2021

Como Citar

Mallart, F., & Araújo, F. . (2021). Uma rua na favela e uma janela na cela: precariedades, doenças e mortes dentro e fora dos muros. Sociedade E Estado, 36(01), 61–81. https://doi.org/10.1590/s0102-6992-202136010004

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