Violência e negociação na construção da ordem nas prisões: a experiência paulista

Autores

DOI:

https://doi.org/10.1590/s0102-6992-201934020008

Palavras-chave:

prisões, PCC, estatutos, ordem prisional, legitimidade

Resumo

O artigo discute a construção da ordem nas prisões a partir do referencial teórico da sociologia das prisões e de um contexto empírico muito específico: o cenário paulista, marcado pela hegemonia do grupo Primeiro Comando da Capital (PCC). Nosso argumento é que esse grupo reconfigurou a dimensão da ordem nas prisões; enquanto organização, estabeleceu um novo padrão de relações com a administração prisional; redesenhou as formas de exercício do poder no interior da massa carcerária, tanto em termos dos elementos constitutivos das hierarquizações entre os presos, como dos controles sociais e, ainda, do uso da violência. Além de um diálogo com a literatura voltada para o tema, foram tomados como objeto de análise dois documentos produzidos pelo PCC (estatutos) que refletem dois momentos distintos da trajetória do grupo, cada um deles engendrando elementos e mecanismos que alteraram as dinâmicas na construção da ordem prisional.

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Biografia do Autor

Camila Nunes Dias, Universidade Federal do ABC (UFABC)

Professora da Universidade Federal do ABC (UFABC) e pesquisadora do Núcleo de Estudos da Violência da Universidade de São Paulo (NEV-USP), Santo André, SP, Brasil.

Fernando Salla, Núcleo de Estudos da Violência da Universidade de São Paulo (NEV-USP)

Pesquisador associado do Núcleo de Estudos da Violência da Universidade de São Paulo (NEV-USP).São Paulo, SP, Brasil.

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Publicado

19-08-2019

Como Citar

Dias, C. N., & Salla, F. (2019). Violência e negociação na construção da ordem nas prisões: a experiência paulista. Sociedade E Estado, 34(02), 539–564. https://doi.org/10.1590/s0102-6992-201934020008

Edição

Seção

Artigos