Como continuaram os processos civilizadores:
rumo a uma informalização dos comportamentos e a uma personalidade de terceira natureza
Palavras-chave:
Processos Civilizadores, Informalização dos Comportamentos, Terceira NaturezaResumo
Baseado em uma análise de livros de boas maneiras, datados desde 1890, em quatro países ocidentais, este artigo descreve como “processos civilizadores” continuaram nos séculos XIX e XX. O artigo concentra-se, primeiro, em três funções centrais de uma “boa sociedade” e de seu código de costumes e maneiras e, em seguida, descreve como, em um processo de longa duração de formalização dos costumes e maneiras e de disciplinamento de pessoas, emoções “perigosas”, como aquelas relativas à violência física (incluindo a sexual), passaram a ser controladas de modos cada vez mais automáticos. Sendo assim, um tipo de personalidade de segunda natureza ou de consciência dominada tornou-se predominante. O século XX, por sua vez, assistiu ao aumento dos constrangimentos sociais em favor de condutas descontraídas, além de reflexivas, flexíveis e alertas. Tais pressões coincidiram com uma informalização dos comportamentos e uma emancipação de emoções: emoções que haviam sido negadas e reprimidas recuperaram acesso à consciência e maior aceitação nos códigos sociais. No entanto, foi somente a partir da “Revolução Expressiva” da década de 1960 que, cada vez mais, os padrões de autocontrole têm habilitado as pessoas a admitirem, para si mesmas e os outros, a possibilidade de se sentir emoções “perigosas” sem incitar vergonha, mais especificamente, o receio de perder o controle e a dignidade. À medida que se tornou “natural” perceber os impulsos e as demandas de ambas, da “primeira natureza” e da “segunda natureza”, bem como os perigos e as oportunidades, de curta e longa duração, em qualquer situação ou relação, tem se desenvolvido um tipo de personalidade de “terceira natureza”. Exemplos ilustrativos dessas tendências também nos ajudam a entendê-las como um processo de integração psíquica desencadeado por um processo de integração social continuada.