Intolerância religiosa, racismo epistêmico e as marcas da opressão cultural, intelectual e social

Autores

DOI:

https://doi.org/10.1590/s0102-6992-202237020005

Palavras-chave:

Intolerância religiosa. Racismo epistêmico. Mercado religioso. Religiosidade nacional. Violência social.

Resumo

Este artigo objetiva delinear os contornos peculiares dos conflitos religiosos no Brasil contemporâneo, a partir de uma reflexão teórica com base na literatura sociológica referente à intolerância religiosa nacional. As reflexões apontam para um entendimento de que este fenômeno encerra genealogia ancorada nas formulações ideológicas de origem colonial construídas para subordinar ou extinguir as experiências, histórias, recursos e produtos culturais de povos colonizados/escravizados marcados pela inferioridade mental e cultural baseada em diferenças raciais artificialmente criadas. Seus desenhos atuais respondem ao legado colonial do racismo epistêmico, entrecruzado com a disputa pelo mercado religioso e as características peculiares da religiosidade nacional crédula de soluções mágico-religiosas para seus problemas cotidianos, sobrepostos à tendência da sociedade brasileira em usar da violência para a solução de conflitos. A tese deste artigo teórico sustenta que a intolerância religiosa brasileira contemporânea se articula por estas quatro vertentes de sinergia e performance que se retroalimentam.

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Biografia do Autor

Paula Márcia de Castro Marinho, Universidade Federal de Goiás (UFG)

Doutora do Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Faculdade de Ciências Sociais da Universidade Federal de Goiás.

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Petrópolis: Vozes, 2013.

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Publicado

01-08-2022

Como Citar

de Castro Marinho, P. M. (2022). Intolerância religiosa, racismo epistêmico e as marcas da opressão cultural, intelectual e social. Sociedade E Estado, 37(02), 489–510. https://doi.org/10.1590/s0102-6992-202237020005

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