Divisão sexual do trabalho, classe e pandemia: novas percepções?

Autores

DOI:

https://doi.org/10.1590/s0102-6992-202136010005

Palavras-chave:

divisão sexual do trabalho; classe média; família; empregadoras; pandemia

Resumo

O objetivo do artigo é analisar como as mulheres lidaram com o período de isolamento social, sem suas tradicionais redes de apoio no processo de conciliação entre “casa” e “trabalho”: trabalho doméstico remunerado; creches e escolas; arranjos familiares.  Através de entrevistas semiestruturadas com mulheres pertencentes às classes médias, percebe-se poucas alterações nas dinâmicas da divisão sexual do trabalho, aumentando a sobrecarga e, consequentemente, as desigualdades vivenciadas no período. Observa-se que a partir dessa experiência, as instituições educacionais tomam um lugar privilegiado na percepção dessas mulheres, contrapondo com uma visão menos valorativa do trabalho doméstico remunerado. Para além disso, o Estado aparece diretamente conectado com a percepção de “caos” em suas vidas, trazendo novos pontos de compreensão sobre políticas públicas voltadas ao cuidado e ao âmbito doméstico.

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Biografia do Autor

Thays Monticelli, Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)

Pós-doutoranda na Universidade Federal do Rio de Janeiro (bolsista Faperj nota 10), faz parte do Núcleo de Estudos de Sexualidade e Gênero (Neseg), Rio de Janeiro, Brasil.

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Publicado

26-05-2021

Como Citar

Monticelli, T. (2021). Divisão sexual do trabalho, classe e pandemia: novas percepções? . Sociedade E Estado, 36(01), 83–107. https://doi.org/10.1590/s0102-6992-202136010005

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