Orlando e a Utopia como Aporia
Corpo, Gênero, Ficção
DOI:
https://doi.org/10.26512/vis.v18i2.27412Palavras-chave:
Gênero; Corpo; Ficção; Teoria e História da Arte; Virginia WoolfResumo
Parte-se aqui da constatação de uma aporia: o utópico comporta em si a potência mesma da imposição tirânica de uma idealidade projetada, que em tudo se assemelharia à face perversa da utopia. Em nosso entender, todo o arsenal ideológico contrário à imprevisibilidade das modulações do gênero encontra em Orlando, de Virginia Woolf (1882-1941), publicado em 1928, o motivo sintomal de um aceno investigativo em torno das complexidades envolvidas na espinhosa questão do gênero, para nós, a mais central questão da filosofia contemporânea. Historicamente, o gênero acaba por constituir-se à maneira de um não- lugar ”“ u-topos- ideal em que o sexo anatômico serve ao cáculo reprodutivo responsável pela perpetuação de um éden a um só tempo marcado e rompido pela divisão binária dos sexos. A naturalização discursiva do sexo biológico provê a sustentação da espinha dorsal do binarismo logofonocêntrico. Neste texto, intenta-se demonstrar como gênero e estruturas de significação imbricam-se em um campo caracterizado por reverberações e tensões de teor político, estético e existencial. O gênero é, portanto, objeto de incessante fabulação e assim o locus privilegiado da mais radical e desestabilizadora poiesis.