Pensamentos sobre o desencarceramento em massa

a necessidade da inclusão do debate racial na formação do paradigma restaurativo

Autors/ores

  • Adriele Nascimento da Cruz Universidade Federal da Bahia
  • Caio Vinícius de Jesus Ferreira dos Santos Universidade Federal da Bahia

Paraules clau:

Justiça, Justiça Restaurativa, Raça, Sistema de Justiça Criminal, Desencarceramento

Resum

A justiça restaurativa é considerada um novo paradigma de compreensão e resposta ao crime, que pretende lidar com a violência, não apenas na esfera penal, enquanto fenômeno complexo, fomentando abordagens para minimizar os efeitos negativos do sistema penal sobre o delinquente e a vítima, com possibilidade de participação mais contundente da coletividade. O presente trabalho apresenta a justiça restaurativa para além das práticas e seus resultados, observando os fundamentos teóricos dela para indicar a necessidade de ampliação de seus elementos teóricos. A partir disso, pretende-se indicar que é necessária a ampliação dos debates restaurativos a partir das demandas que impõe um esforço de concretização de direitos interseccionalmente, com base em teorias sociais que abracem discussões de raça e gênero por exemplo. Por derradeiro, a literatura africana, mais especificamente dos modelos de resolução de conflito dos povos banto, pode oferecer narrativas, modelos, práticas e finalidades que auxiliem na emancipação e capacitação dos intervenientes do conflito penal – técnicos judiciários, comunidade, vítima e ofensor, para evidenciarem as contradições do contexto social, interagindo criativamente na busca da solução mais justa, igualitária e humanizada para as singularidades em questão.

Descàrregues

Les dades de descàrrega encara no estan disponibles.

Biografies de l'autor/a

Adriele Nascimento da Cruz, Universidade Federal da Bahia

Possui Bacharelado em Direito pela Universidade Católica do Salvador (UCSAL); Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Direito Público pela Universidade Federal da Bahia (UFBA); Integrante do grupo de pesquisa Direito e Africanidades: Grupos de Estudos e Pesquisas sobre Justiça, Pensamento Africano e Afro-brasileiro da Universidade Estadual da Bahia (UNEB).

Caio Vinícius de Jesus Ferreira dos Santos, Universidade Federal da Bahia

Mestre em Direito Público e graduado pela Faculdade de Direito da Universidade Federal da Bahia (UFBA). Foi aluno especial do Programa de Pós-graduação da Faculdade de Direito do Largo de São Francisco da Universidade de São Paulo. Professor da Faculdade Estácio de Sá. Advogado.

Referències

ACHUTTI, Daniel Silva. Justiça restaurativa e abolicionismo penal: contribuições para um modelo de administração de conflitos no Brasil. São Paulo: Saraiva, 2014.

ALEXANDER, Michelle. A nova segregação: Racismo e encarceramento em massa. 1ª ed. São Paulo, 2017.

BATSÎKAMA, Patrício. As Origens do Reino do Kongo. Editora Mayamba, Luanda, 2010.

BATSÎKAMA, Patrício. Lûmbu: A democracia no antigo Kôngo. Taubaté: Editora Casa Cultura, 2014.

BRAITHWAITE, J. Restorative Justice and Responsive Regulation. Oxford University Press, 2002.

CARNEIRO, Sueli. A construção do outro como não-ser como fundamento do ser. Tese de doutorado, Universidade de São Paulo, 2005.

CHRISTIE, Nils. Civilidade e Estado. Tradução de Beatriz Scigliano Carneiro. In Edson Passetti & Roberto B. Dias da Silva (orgs). Conversações abolicionistas. Uma crítica do sistema penal e da sociedade punitiva. São Paulo, IBCCrim/PUC-SP, 1997, p. 241-257. A indústria do controle do crime. Tradução de Luis Leiria. Rio de Janeiro, Forense, 1998.

GÓES, Luciano. Entre a abolição e o abolicionismo penal: insurgência marginal crítica por uma sociologia do sistema de controle racial brasileiro. In: 130 anos de (des)ilusão: A farsa abolicionista em perspectiva desde olhares marginalizados. Góes, Luciano (Org.) Belo Horizonte: Editora D’Plácido, 2018

GONZALEZ, Lélia. “A categoria político-cultural da amefricanidade.” Revista Tempo Brasileiro. Rio de Janeiro, 92/93, jan.-jun. 1988, p. 69-82.

HULSMAN, Louk. Temas e conceitos numa abordagem abolicionista da justiça criminal. In Edson Passetti & Roberto B. Dias da Silva (orgs). Conversações abolicionistas: uma crítica do sistema penal e da sociedade punitiva. São Paulo, IBCCrim/PUC-SP, 1997, p. 189-213. A indústria do controle do crime. Tradução de Luis Leiria. Rio de Janeiro, Forense, 1997.

IBCCrim/PUC-SP, 1997, p. 189-213. A indústria do controle do crime. Tradução de Luis Leiria. Rio de Janeiro, Forense, 1997.

JACCOUD, Mylène. Princípios, Tendências e Procedimentos que cercam a Justiça Restaurativa. In: SLAKMON, C., R. DE VITTO, R. GOMES PINTO (org.). Justiça Restaurativa. Brasília/DF: Ministério da Justiça e PNUD, 2005.

KARAM, Maria Lúcia. Utopia transformadora e abolição do sistema penal. In Edson Passetti & Roberto B. Dias da Silva (orgs). Conversações abolicionistas. Uma crítica do sistema penal e da sociedade punitiva. São Paulo, IBCCrim/PUC-SP, 1997, p. 67-84. A indústria do controle do crime. Tradução de Luis Leiria. Rio de Janeiro, Forense, 1998.

LUZ, Ilana Martins. Justiça restaurativa: a ascensão do intérprete e a nova racionalidade criminal. 2012. 205 f. Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal da Bahia, Faculdade de Direito, 2012.

MABOTA, António dos Santos. O Ubuntu e a Justiça Social. In: (In) Justiça: Terceiro grande consenso moçambicano. Ngoenha, Severino E. (Org.) Maputo: Editora Real Design, 2019.

MARSHALL, Tony F. Restoratives Justice: an overview. Home Office Research Development and Statistics Directorate, London, 1999, p. 5. Disponível em: <http://fbga.redguitars.co.uk/restorativejusticeanoverview.pdf>. Acesso em: 10 mai 2022.

MOORE, Carlos. Racismo & Sociedade: novas bases espistemológicas para entender o racismo. 3a edição – Belo Horizonte: Nandyala, 2020.

NASCIMENTO, Abdias. O genocídio do negro brasileiro; processo de um racismo mascarado. 3. ed. São Paulo: Editora Perspectivas, 2016.

NASCIMENTO, Adriele da Cruz; GOMANE, Manuel Cochole Paulo. Uma análise sobre a construção dos métodos alternativos de intervenção penal no Brasil. In: Direito Negrorreferenciado: diálogos azeviches e outros fundamentos. Freitas, Régia Mabel da S. (Org.) Salvador, Editora Mente Aberta, 2021.

PALLAMOLLA, Raffaella da Porciuncula. Justiça Restaurativa: da teoria à prática. São Paulo: IBCCRIM, 2009.

PASSETI, Edson. Abolição, um Acontecimento Possível. In Edson Passetti & Roberto B. Dias da Silva (orgs). Conversações abolicionistas. Uma crítica do sistema penal e da sociedade punitiva. São Paulo, IBCCrim/PUC-SP, 1997, p. 258-263. A indústria do controle do crime. Tradução de Luis Leiria. Rio de Janeiro, Forense, 1997.

PIRES, Álvaro. A Racionalidade Penal Moderna: o modelo de nova prevenção. São Paulo: CEBRAP, 2004. Disponível em: <http://disciplinas.stoa.usp.br/pluginfile.php/121354/mod_resource/content/1/Pires_A%20racionalidade%20penal%20moderna.pdf> . Acesso em: 28 abr 2021.

ROSENBERG, Marshall B. Comunicação não-violenta: técnicas para aprimorar relacionamentos pessoais e profissionais. Tradução Mário Vilela. São Paulo: Ágora, 2006.

ROSSATO, César Augusto. A Kakistocracia e a “política pós verdade” no regime racista, patrarcal e capitalista predatório: regrssão da justiça brasileira e estadunidense com o medo, ódio e crise da identidade branca. In: Branquitude: estudos sobre a identidade branca no Brasil. Muller, Tânia Mara Pedroso; Cardoso, Lourenço. Curitiba, Editora Appris, 2017.

SANTANA, S. P.. Justiça restaurativa, um novo olhar sobre as vítimas de delitos, e a injustificável contraposiçao da vitimodogmática. In: Conselho Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Direito, 2010, Fortaleza. Anais XIX Encontro Nacional do CONPEDI/FORTALEZA, 2010.

SANTOS, Cláudia Cruz. A Justiça Restaurativa: um modelo de reacção ao crime diferente da justiça penal porquê, para quê e como?. 1ª ed. Coimbra: Coimbra Editora; 2014.

SÃO BERNARDO, Sérgio. O cosmograma bakongo como instrumento ético-normativo: para uma justiça afro-brasileira. In: Direito Negrorreferenciado: diálogos azeviches e outros fundamentos. Freitas, Régia Mabel da S. (Org.) Salvador, Editora Mente Aberta, 2021.

SICA, Leonardo. Justiça restaurativa e mediação penal: o novo modelo de justiça criminal e de gestão do crime. Rio de Janeiro, RJ: Lumen Juris, 2007.

TIVERON, Raquel. Justiça Restaurativa e Emergência da Cidadania na Dicção do Direito. A construção de um novo paradigma de justiça criminal. Brasília: Thesaurus, 2014.

Publicades

2023-12-21

Com citar

NASCIMENTO DA CRUZ, Adriele; DE JESUS FERREIRA DOS SANTOS, Caio Vinícius. Pensamentos sobre o desencarceramento em massa: a necessidade da inclusão do debate racial na formação do paradigma restaurativo. Revista Llatinoamericana de Criminologia, [S. l.], v. 3, n. 1, p. 167–186, 2023. Disponível em: https://periodicos.unb.br/index.php/relac/article/view/44475. Acesso em: 27 nov. 2024.