Chamada para edição temática: Itinerários intelectuais de Françoise Choay
A Revista Paranoá dedica esta edição especial à vida e à obra de Françoise Choay [1925- ], filósofa de formação, cujo trabalho ganhou reconhecimento a partir da década de 1950, quando passou a escrever críticas de arte e de arquitetura para jornais e revistas de grande circulação. Nos anos que se seguiram, publicou e editou livros, notadamente antologias e traduções, que versavam sobre as teorias do urbanismo, da arquitetura e do patrimônio. Essas publicações foram a porta de entrada para sua carreira como professora universitária (PEIXOTO, 2018; PAQUOT, 2019) e lhe atribuiu reconhecimento como historiadora das ideias (CLAUDE, 2006; PAQUOT, 2019). Entre os títulos que publicou se encontram: “Urbanismo: Utopia e realidade” (1965), A regra e o modelo (1980), Alegoria do patrimônio (1992), “Patrimônio em questão. Antologia para um combate” (2011) e Pour une anthropologie de l’espace [Por uma antropologia do espaço] (2006).
Sua fortuna crítica compreende trabalhos realizados por Thierry Paquot, valendo destacar a breve biografia intitulada Die Städtebautheoretikerin Françoise Choay. Eine diskursbildende Propagatorin der Disziplin (2019) e as duas entrevistas que ele realizou para a revista Urbanisme (1994); e a monografia de Rachid Ouahès, Chronique d’une mort annoncée. Essai d’interprétation de la théorie d’urbanisme de Françoise Choay, en regard du concept de ‘mort’ appliqué à l’architecture et à la ville (1999). Somam-se a esses trabalhos as menções a Choay em três livros importantes: o de Marcel Roncayolo e Thierry Paquot, Villes et Civilisation Urbaine XVIIIe – XXe siècle (1992), o de François Dosse, Michel de Certeau : Le Marcheur blessé » (2002), e o de Viviane Claude, Les métiers de l’urbanisme au XXème siècle (2006). Para falar de sua importância no diálogo entre Itália e França, Andrea Pane dedicou-lhe artigos e capítulo de livro (2020).
No Brasil, as primeiras referências a Choay datam da década de 1960, seu nome figurou nos circuitos da crítica de arte em notas de autoria de Ferreira Goulart e, sobretudo, de Mário Barata, publicadas em jornais de grande circulação. Um dos textos de Françoise Choay sobre Brasília, de 1960, foi traduzido por Hidelbrando Giudico e pôde ser lido nas páginas da Tribuna da Imprensa. Yves Bruand a mencionou em artigo sobre a capital federal no jornal “O Estado de São Paulo” (1960).
Curiosamente, durante o período em que seus livros mais conhecidos foram traduzidos e publicados no país, não é possível perceber uma atenção específica sobre sua obra. Contudo, o cenário se alterou no início dos anos 2010, quando o debate de sua obra volta ser objeto de interpretações e críticas. Os apontamentos não figuram mais nas páginas dos jornais, mas passam a integrar estudos acadêmicos, entre os quais, é importante sublinhar o pioneirismo de Margareth Pereira da Silva que, em 2010, conduziu um curso dedicado a analisar os textos da filósofa francesa; e os produtos das pesquisas de Elane Ribeiro Peixoto (2013; 2020), de Priscilla Alves Peixoto (2017, 2018, 2021) e de Virginia Pontual (2018).
Como se pode constatar, as pesquisas sobre essa autora francesa parecem se avolumar, mas há fronteiras ainda a explorar. A proposta de uma edição de cunho biográfico sobre Françoise Choay deve ser vista como uma homenagem, sem caráter memorialístico. Na esteira da “biografia intelectual” (Dosse, 2009 [2005]), a Paranoá busca tanto construir um conhecimento mais aprofundado sobre Choay como também estabelecer um enquadramento mais complexo sobre os campos pelos quais Françoise Choay transitou e ajudou a construir. Mais do que um olhar isolado sobre a obra da autora, interessa a esta edição trabalhos que considerem as condições de enunciação e circulação de sua obra, as interlocuções estabelecidas, incluindo possíveis biografias cruzadas, e reflexões que discutam a historicidade de seus textos. Os escritos da própria autora, assim como suas traduções e resultados de sua atividade como editora são vistos como fontes privilegiadas, mas não exclusivas, que testemunham as errâncias de uma vida, vestígios das atividades de uma intelectual em ação. O estímulo ao olhar apurado dirigido aos textos intenta uma dupla provocação: eles podem contribuir para que se explore tanto as questões que explicitam como também aquelas que não evidenciam.
Cabe reforçar que, neste número da Paranoá, a atenção à enunciação dos textos é estendida também aos manuscritos que a ela serão submetidos. A proposta de suas editoras não pretende naturalizar o fato do convite ser feito por uma revista brasileira, sediada em Brasília. No entanto, também não buscam simplificar a situação. Ou seja, não se trata de lembrar apenas que Françoise Choay visitou a cidade ainda em construção e dos textos que resultaram dessa experiência (CHOAY, 1959a; 1959b), mas também reconhecer que propor um debate sobre o tema a partir de uma revista brasileira não é o mesmo que o fazer a partir de uma revista francesa. Embora as fontes primárias sejam de mais difícil acesso aos pesquisadores brasileiros, a distância (geográfica e cultural) permite beneficiar os autores com outro enquadramento da questão e, com isso, intensificar o debate sobre a circulação e a recepção dos textos da autora. Por exemplo: O quanto suas condições social e de gênero impactaram e impactam a interpretação de sua obra em seu próprio país? Um estudo sobre o uso operativo de sua obra nas escolas de arquitetura poderia problematizar a relação que os leitores estabelecem com livros de teorias? Revisitar livros tomados como manuais de ensino, como os de Françoise Choay, também não nos ajudaria a reconhecer os termos de suas apropriações? Ou seja, um modo de se estabelecer uma espécie de antropologia do ensino e das leituras em arquitetura?
Diante de tantas possibilidades, as páginas da Paranoá estão franqueadas para uma grande variedade de trabalhos: artigos, traduções, depoimentos e entrevistas. Atenta-se para o fato de que, para as traduções, casos os textos não sejam de domínio público, as permissões de seus editores para que sejam traduzidos e publicados devem ser apresentadas.
Desde já, as editoras responsáveis por este número agradecem aos interessados.
Editoras convidadas
Ana Clara Giannecchini (UnB), Elane Ribeiro Peixoto (UnB) e Priscilla Peixoto (UFRJ)
Calendário:
01/12/2022 - abertura da chamada
03/03/2023 - fim das submissões
março e abril de 2023 - avaliações
junho de 2023 - revisões
julho de 2023 - início da publicação dos artigos