“A tradicional família pré-histórica”
ensaio analítico a partir do diálogo entre museologia, arqueologia e crítica feminista
DOI:
https://doi.org/10.26512/museologia.v14i28.60448Palavras-chave:
Museologia; Arqueologia; gênero; crítica feminista; família.Resumo
Historicamente, a prática arqueológica e os museus estão imbricados com o patriarcado capitalista de supremacia branca. Nesse ensaio, examino como essa herança está marcada em discursos museais e educacionais devotados a divulgar a arqueologia para um público amplo. Inserido em uma pesquisa de longo-termo, o texto organiza-se em dois eixos: primeiramente, sistematiza as bases teóricas-metodológicas trabalhadas em outras escritas para, em um segundo momento, analisar como um certo ideal de família está marcado nas referidas narrativas museais e patrimoniais, ideário que se torna combustível para os discursos normativos da extrema direita no mundo contemporâneo. A museologia social, a arqueologia feminista e, em especial, os feminismos negros são as inspirações teóricas do ensaio, demonstrando que as coisas arqueológicas, nas narrativas examinadas, são interpretadas a partir da reprodução das noções de gênero e sexualidade da sociedade moderna e ocidental, não refletindo as relações pretéritas, ainda que esse passado seja instrumentalizado como argumento de autoridade no presente.
Downloads
Referências
ANZALDÚA, Gloria. Queer(izar) a escritora - Loca, escritora y chicana. In: BRANDÃO, I.; CAVALCANTI, I.; LIMA COSTA, C.; LIMA, A. C. A Traduções da Cultura. Perspectivas críticas feministas (1970-2010). Florianópolis: Editora da UFSC, 2017, p. 408-425. Publicado original em 1991.
BRUNO, Maria Cristina Oliveira. Museologia. A luta pela perseguição ao abandono. Tese de Livre Docência, Universidade de São Paulo, 2000.
CONKEY, Margaret W.; SPECTOR, Janet. D. Archaeology and the Study of Gender. Advances in Archaeological Method and Theory, n. 7, p.1 -38, 1984.
FEDERICI, Silvia. Mulheres e caça às bruxas: da Idade Média aos dias atuais. São Paulo: Boitempo, 2019.
FURQUIM, Laura Pereira; JÁCOME, Camila Pereira. Teorias de gênero e feminismos na arqueologia brasileira: do dimorfismo sexual à primavera queer. Revista Arqueologia Pública, v. 13, n. 1[22], p. 255–279, 2019.
HAYS-GILPIN, Kelley; WHITLEY, David S. Introduction: gendering the past. In: HAYS-GILPIN, Kelley; WHITLEY, David S. Reader in Gender Archaeology. London; New York: Routledge, 1998, p. 3-10.
hooks, bell. O feminismo é para todo mundo: políticas arrebatadoras. Rio de Janeiro: Rosa dos Tempos, 2018.
LEAKEY, Mary. Tracks and tools. Philosophical Transactions of the Royal Society B: Biological Sciences, 292, p. 95–102, 1981.
MASAO Fidelis T.; ICHUMBAK, Elgidius B.; CHERIN, Marco; BARILI, Angelo; BOSCHIAN, Giovanni; IURINO, Dawid; MENCONERO, Sofia; MOGGI-CECCHI Jacopo; MANZI, Giorgio. New footprints from Laetoli (Tanzania) provide evidence for marked body size variation in early hominins. eLife, 5e19568, p. 1-29, 2016.
MCCLINTOCK, Anne. Couro imperial: raça, gênero e sexualidade no embate colonial. Campinas: Editora da Unicamp, 2010.
MORAES WICHERS, Camila A. Arqueologia, processos de musealização e representação no Brasil: enredos da colonialidade, fissuras e contranarrativas. Brasiliana: Journal for Bazilian Studies, Dossiê “Archaeology & Brazilian Studies: Past and Present”, v.9, p. 206 - 232, 2020.
MORAES WICHERS, Camila A. de. Acerca da antropofagia das coisas arqueológicas: museus e instituições de guarda e pesquisa no século XXI. In: WITTMANN, Marcus A. S.; CAMPOS, Luana Cristina da Silva; ALVARENGA, Luis Vinicius S.; FREITAS, Aline Gonçalves. Arqueologia no licenciamento ambiental: diagnósticos e perspectivas regionais, ed.1. São Paulo: Tiki Books: SAB, 2025, p. 331 - 358.
MORAES WICHERS, Camila A. de. Museologia, feminismos e suas ondas de renovação. Revista Museologia & Interdisciplinaridade, v.7, p. 138-154, 2018.
MORAES WICHERS, Camila A. de. Narrativas arqueológicas e museológicas sob rasura: provocações feministas. Revista de Arqueologia, v.30, p. 35-50, 2017.
MORAES WICHERS, Camila A. de. Por que eu nunca quis ser arqueóloga? Universidade Estadual de Campinas – RAFeCT, 27 ago. 2025. Disponível em: https://rafect.labjor.unicamp.br/por-que-eu-nunca-quis-ser-arqueologa/. Acesso em: 18 nov. 2025.
MORAES WICHERS, Camila A.; QUEIROZ, Luiz Antônio P.; FREITAS, Juliana; ALVES, Luciana Bozzo. Um olhar para as relações de gênero na produção das coisas de barro. Habitus, v.16, p.75 - 102, 2018.
OLIVEIRA, Ana Cristina Audebert R.; QUEIROZ, Marijara Souza. Museologia – substantivo feminino: reflexões sobre museologia e gênero no Brasil. Revista do Centro de Pesquisa e Formação, nº 5, p. 61 - 77, 2017.
OLIVEIRA, Marina Neiva de. As narrativas fílmicas sobre grupos do passado e a naturalização de estereótipos de raça e gênero em ações da educação patrimonial. Revista Arqueologia Pública, v. 16, n. 1, p. 229-247, 2021.
PATOU-MATHIS, Marylène. O homem pré-histórico também é mulher: uma história da invisibilidade das mulheres. Rio de Janeiro: Rosa dos Tempos, 2022. Publicado originalmente em 2020.
PERAZZO, Marilia; CISNEIROS, Daniela. Vamos falar sobre arqueologia? Ilustrações de Jean Galvão. Recife: Ed. dos Autores, 2025.
RIBEIRO, Loredana. Crítica feminista, arqueologia e descolonialidade: sobre resistir na ciência. Revista de Arqueologia, v. 30, n. 1, p. 210-234, 2017.
RÚSSIO, Waldisa. Texto III. In: ARANTES, Antonio A. (Org). Produzindo o passado. Estratégias de construção do patrimônio cultural. São Paulo: Secretaria do Estado da Cultura/ CONDEPHAAT/ Editora Brasiliense, p. 59-78, 1984.
VOSS, Barbara. Interview with Barbara Voss - Gender Issues. Entrevista realizada por MORAES WICHERS, Camila A.; SCHAAN, Denise; SENE, Glaucia M.; MOURA, Marlene C. O.; VIANA, Sibeli A. Habitus, v.16, p. 187-204, 2018.
WYLIE, Alison. Arqueologia e a crítica feminista da ciência. Entrevista com Alison Wylie. Por Kelly Koide, Mariana Toledo Ferreira & Marisol Marini. Scientiæ studia, São Paulo, v. 12, n. 3, p. 549-90, 2014.
XAVIER, Giovana. Fazer bater o coração das mulheres negras na pré-história. In: PATOU-MATHIS, Marylène. O homem pré-histórico também é mulher: uma história da invisibilidade das mulheres. Rio de Janeiro: Rosa dos Tempos, 2022, p. 9-12. Publicado originalmente em 2020.
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2025 Museologia & Interdisciplinaridade

Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution-NonCommercial-NoDerivatives 4.0 International License.
