Frege novamente?

Construção do Inteligível e Figuras Saber

Autores

  • Claude Imbert École Normale Supérieure, Paris

DOI:

https://doi.org/10.26512/rfmc.v8i2.35852

Palavras-chave:

Frege. Conceitografia. Linguagem. Grafismo.

Resumo

Propõe-se, aqui, alguns elementos de um trabalho em andamento; sua formulação é provisória. Detivemo-nos em suas premissas. Por que esse título “Frege novamente” ? Partindo de uma comunicação no X Encontro de estudos das origens da filosofia contemporânea, realizado em São Paulo no outono de 2019, traça-se o intrincamento histórico dos suportes e linguagens próprios às construções contemporâneas do inteligível, as perguntas às quais respondem tais eles como se revelaram na virada do século XIX para o XX. Trata-se de uma história lenta, o argumento se encaminha no sentido totalmente inverso daquele que se chamou crise das ciências. Se há crise ”“ ainda que esse termo, vindo da medicina hipocrática, tenha perdido muito de sua pregnância ”“ ela estaria também e sobretudo alhures. É a própria noção de modernidade em filosofia que é posta em causa, sempre marcada por uma oposição polimorfa entre Antigos e Modernos, que se perpetua sob inúmeros retornos e retóricas. O argumento teve seu instante de precisão. Seria preciso ainda se perguntar quais Antigos, como eles foram modernos em seu tempo e como “a era clássica”, que neles se amparou, perpetuou-se nas figuras de um criticismo canônico ”“ sobre o qual se fixou o debate. Hoje, é necessário identificar os caminhos sinuosos de uma modernidade em que a filosofia fará sua aposta e sua sorte. Nós o tentamos noutro momento, a propósito de Merleau-Ponty, de Lévi-Strauss ou de Foucault. Eles próprios trabalhavam a partir de uma herança criticista que igualmente abandonaram, sem amargor nem desconstrução, pois o essencial era, já naquele momento, identificar novas linguagens que dispunham o inteligível em outras dimensões e, nas décadas pós-guerra, habilitar dimensões gráficas. Nisso, nosso incômodo toma suas premissas: há na multiplicação das vias emprestadas por um racionalismo distribuído sobre linguagens complementares, que não recobrem inteiramente o espectro e nossas perguntas, desbravando caminhos argumentados ou pretensamente argumentados, inventivos ou recessivos, confundidos numa noção opaca, aproximativa, de informação, disposta num continuum de numérico e de comunicação. O episódio de que Frege foi o epicentro é também um assunto de grafismo, isto é, de sintaxe e de diversificação. Desenha-se aí aquilo que, hoje, separa as línguas ditas naturais das linguagens estritamente gráficas que têm suas próprias dimensões. Tendo coexistido até certo ponto continuadamente, umas e outras adquiriram um estatuto inteiramente diverso e motivaram um conflito de performances. Estavam implicados o alexandrismo do pensamento filosófico e o fim do galileísmo filosófico. Uma rocha fora lançada ao mar, suas vagas vêm até nós.

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Biografia do Autor

Claude Imbert, École Normale Supérieure, Paris

Professeure émérite à l'École Normale Supérieure (Paris), où elle enseigne l’histoire de la philosophie, l’histoire de la logique et l’esthétique. Ses diverses publications portent sur les invariants des logiques grecques, Port-Royal, Kant, Wittgenstein et Frege.

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Publicado

31-12-2020

Como Citar

IMBERT, Claude. Frege novamente? : Construção do Inteligível e Figuras Saber. Revista de Filosofia Moderna e Contemporânea, [S. l.], v. 8, n. 2, p. 191–208, 2020. DOI: 10.26512/rfmc.v8i2.35852. Disponível em: https://periodicos.unb.br/index.php/fmc/article/view/35852. Acesso em: 26 abr. 2024.