Do romanceiro ao cancioneiro

uma análise intermidiática de canções de Zé Ramalho

Résumé

O artigo visa, a partir das aproximações intermidiáticas entre o Romanceiro Popular Nordestino e o Cancioneiro, demonstrar como o compositor Zé Ramalho insere, na tessitura de suas canções, midialidades típicas do Cordel e as atualiza. Com o intuito de captar o impacto destas aproximações, recorremos a alguns teóricos que colaboram com esse estudo o qual não se detém em uma análise hermenêutica, mas no modo como Zé Ramalho trabalhou a materialidade midiática de suas canções, no álbum A peleja do diabo com o dono do céu (1979). Para tanto, buscamos nos estudos de Irina Rajewsky (2012), Adalberto Müller (2012), Claus Clüver (2006) e Maria Cristina Cardoso Ribas (2018), aportes para elucidar as combinações, referências e transformações midiáticas. Para a investigação mais específica da conexão literatura e música, trouxemos as reflexões de Solange Oliveira (2000) e Joaquim Aguiar (2001). Com o intuito de compreender os entrelaçamentos intermidiáticos do cordel com as canções do artista, consideramos os estudos de Rosana Malafaia (2022) e Idelette Muzart (2009). O resultado encontrado demonstrou originalidade técnica, estética e política nas músicas analisadas: o compositor fez reverberar a complexidade composicional do Romanceiro, ao mesmo tempo em que trouxe ao proscênio vozes silenciadas e estigmatizadas nos compêndios literários.