A “categoria da causalidade” na formação da antropologia
Palavras-chave:
AntropologiaResumo
A causalidade é um tema tradicional na filosofia, na epistemología e na história das ciências. Sua importância, no entanto, não desfalece em nenhuma dessas áreas do conhecimento, a se julgar pela extensa bibliografia moderna a respeito.2 Num ensaio como este, em que não se pretende entrar em nenhuma dessas áras per se, senão apenas delas lançando mão em nome de uma adequada construção de nosso objeto de estudo, a abordagem da questão da causalidade será feita de dentro da antropologia social, particularmente em sua tradição empirista, tal como ela se atualiza na vertente anglo-saxã da disciplina, na chamada Escola Britânica de Antropologia Social. Este ensaio tem muito a ver com um trabalho anterior3 por meio do qual buscávamos equacionar a questão das “ categorias do entendimento” no interior de uma outra tradição da antropologia ”” a tradição racionalista ”” e seu exercício na vertente francesa da disciplina. Naquela oportunidade, como agora, o intuito é o mesmo: o de dar conta de momentos cruciais de constituição da antropologia social; e esses momentos a marcaram de tal forma que se torna necessário recuperá-los para uma cabal compreensão do teor do conhecimento por ela produzido. O momento ao qual nos referimos com relação à tradição empirista da antropologia social é o da programação da disciplina, visualizada como ciência obediente a determinados parâmetros que a legitimariam enquanto tal. Isso significa que se procurará resgatar aqui uma sorte de “ cultura científica” (para usarmos uma expressão cara aos antropólogos) ou “ tradição” (noção igualmente cara aos hermeneutas) para interpretá-las à luz do próprio movimento histórico da disciplina, de suas origens até sua consolidação, alcançada no período que mediou as duas Grandes Guerras no espaço acadêmico britânico. Vale dizer que o nosso enfoque na “ categoria da causalidade” nada tem a ver com uma busca de identificação de categorias ontológicas correntes em sistemas filosóficos de tipo aristotélico ou kantiano; ao contrário, o que temos procurado tem sido simplesmente tangenciar as filosofias eventualmente presentes nas diferentes tradições de saber ”” no caso em foco, a tradição empirista ”” dedicando-nos a discernir exclusivamente aquelas categorias que, na feliz expressão de Durkheim, são “ conceitos eminentes do espírito” e, como tais, constituem “ a ossatura da inteligência” . (Cardoso de Oliveira, 1983: 130-4). No que tange o empirismo “primitivo” ,4 a causalidade parece ser uma dessas categorias.
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